Bruno Seguro, Nº4, 12º B, 2010/11
Este sofrimento de que ele foge é consequência de certos aspectos. Um desses aspectos é o reflectir sobre o interior: “Não quero recordar nem conhecer-me” no verso “Somos demais se olhamos para quem somos”. É explícita a mensagem de que não se deve olhar para “dentro de nós” e somos demais porque fazê-lo perturba o equilíbrio que deve ser mantido na vida, pela moderação dos prazeres e das emoções.
No poema “Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira-do-rio” está presente outro aspecto causador de sofrimento: o gosto pelos prazeres dinâmicos. No verso “Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantem a voz”, é fácil a interpretação do sentido de que estes prazeres dinâmicos (o “amor”, o “ódio”, a “paixão”) não devem ser experimentados porque vão além daquilo que deve ser o prazer: não um excesso.
Ainda neste poema, o campo lexical da ataraxia reflecte o desejo do equilíbrio, da suavidade das coisas. Isto está interligado, num verso, com o conhecimento visto também como mais uma causa deste sofrimento. Esse verso é “Este momento em que sossegadamente não cremos em nada”, e percebe-se que para Ricardo Reis, ao prescindir do conhecimento dos valores instituídos, atinge o sossego, ou seja, o conhecimento não lhe traz felicidade mas sim sofrimento.
Outro exemplo explícito de como o conhecimento é uma causa de sofrimento é o verso “ Se sabê-lo não serve de sabê-lo” do poema “Não quero recordar, nem conhecer-me.” Aliás, logo no primeiro verso reactualiza-se o desejo de fuga do conhecimento, de fuga do sofrimento.
Em “Sofro, Lídia, do medo do destino” Ricardo Reis mostra-nos, nos versos “Ficando eu sempre quase o mesmo, indo/ para a velhice um dia entro/ No anoitecer”, que deseja que a vida passe por ele sem que ele passe pela vida, pois, se ele se deixar assim, só símbolo, distante, não sofrerá. Isto acontece porque, para Ricardo Reis, se pensarmos na morte, que é o resultado do futuro, ou no passado, não se alcança a felicidade, mas sim o contrário: o sofrimento. Como tal, ele foge desses pensamentos que se instituem em nós e não nos deixam viver.
Bravo, Bruno.
ResponderEliminarFicamos à espera de mais um acto de excelência da tua parte.
Abraço.
JM