Trabalho realizado por Inês Silva Machado, nº 16, 12º A, 2010/11
Prof. João Morais
A Mensagem, obra poética de Fernando Pessoa, exprime o ideal patriótico, sebastianista e regenerador de uma nação que deve renascer espiritualmente: Portugal. A estrutura tripartida da obra sugere os três momentos do Império Português: o nascimento, o amadurecimento e a morte, e o restante percurso da obra heróica: “Deus quer, o Homem sonha, a obra nasce” (“Infante”). O Homem tem de intuir a vontade de Deus, que culmina na realização da obra e do Império. No entanto, esta morte não é definitiva e propõe o ressurgimento de uma nação que está em decadência. O poema “Noite” dá luz à terceira parte da obra, “O Encoberto”, e expressa o desejo do renascimento e da reconquista de uma alma e de uma identidade perdidas, e apela à mudança e à acção dos portugueses na construção de um Império futuro, o Quinto Império, que não se inscreve na esfera do terreno (como os Descobrimentos), mas sim naquilo que é espiritual e imaterial.
É, desde logo, pela leitura do título que nos apercebemos da sua configuração simbólica. Existe a expectativa de algo acontecer (“névoa escura”) na medida em que a “Noite” é o tempo cósmico de gestação de alguma coisa apesar de, simultaneamente, também simbolizar o tempo da morte e do mistério. Associada à “Noite”, a “névoa” é uma indefinição de formas, é um impedimento que cria a hipótese de ressurgimento e revelação de novas realidades. A “ânsia” pela reabilitação da pátria leva o sujeito poético a relembrar os heróis que permanecem na memória colectiva e que são exemplos de dignidade e do que permitirá reestabelecer a pátria. Há a alusão aos irmãos Corte-Real, que intervieram na exploração do Canadá, que pertencem a um colectivo que sonhou, procurou e superou surgindo inicialmente como referentes históricos mas adquirindo um valor simbólico e espiritual instituído pela morte física.
Além da estrutura trinitária da Mensagem, que representa os momentos do herói e o percurso da obra heróica, também este poema d’ “Os Tempos” se associa ao número três visto que se encontra dividido em três momentos e se refere a três irmãos, o que confere ao mesmo número um valor simbólico: representa, assim, a perfeição e a totalidade.
O primeiro momento corresponde às duas primeiras estrofes e diz respeito ao passado enquanto tempo da descoberta e da superação refirindo-se, então, aos heróis dos Descobrimentos (“na fé e na lei/ Da descoberta, ir em procura”), aqueles que nunca atingem a satisfação e a felicidade e que se distinguem do animal (“Ser descontente é ser homem” – in “O Quinto Império”). O mar tem uma configuração simbólica na medida em que é o local onde os portugueses superaram os limites representando a conquista humana em relação ao conhecimento. Já a terceira e quarta estrofes representam, após a morte concreta dos heróis, o presente, isto é, a decadência do Império (“Cumpriu-se o Mar e o Império se desfez” – in “O Infante”) e a vontade de reabilitação da morte dos dois irmãos, da pátria, concretizada pelo terceiro irmão (“olhos rasos de ânsia/ Fitando a proibida azul distância”). O “Poder” e o “Renome” são a alusão simbólica a dois referentes históricos, os irmãos Corte-Real, que estão aqui desmaterializados para vencer o tempo (natureza do mito). A estrofe final é um apelo a Deus, enquanto entidade abstracta, pelo ressurgimento do Império (“A Deus as mãos alçamos”).
O sujeito poético termina com “Mas Deus não dá licença que partamos”, que estabelece uma relação com o último verso de “Nevoeiro” – e da obra –, “É a Hora!”, determinando, assim, a necessidade de criação de um Império Espiritual e revelando o desejo de um renascimento: está na altura de Portugal se reabilitar enquanto nação, o que se compagina com o louvor a “Deus” (“A Deus as mãos alçamos”).
Quanto à estrutura externa, o primeiro poema d’ “Os Tempos” é caracterizado pela irregularidade métrica e por um ritmo rápido relacionado com a estrutura narrativa do poema, que é realçada pelo recurso a sucessivos transportes. A existência de cinco sextilhas e de cinco poemas em “Os Tempos” confere ao número uma simbologia de ordem, equilíbrio e harmonia, característica desta parte da Mensagem em que o Império desfeito é substituído pelo desejo de um reino imaterial e espiritual onde termina o caos e inicia a ordem. Em suma, a composição apela à acção dos portugueses na construção de uma nova realidade e expressa a ânsia messiânica da criação do Quinto Império.
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