«A minha poesia é talvez esta luta contra paredes, muros e pedras – na tentativa de atravessá-las, em busca de um universo perdido.»
José Gomes Ferreira
Isto acontece na arte. Em diversos movimentos das artes plásticas, os objetos não são representados na sua forma ou disposição reais, como no Cubismo, em que cada objeto é decomposto em vários planos, não havendo, da parte do artista, nenhum compromisso de fidelidade com a realidade, em particular, com a representação do espaço e do tempo. [A este título, atentemos igualmente no Surrealismo, que dá grande importância ao irreal e ao inconsciente, libertando-se, desse modo, das exigências da racionalidade. Também são muitas vezes utilizados elementos do irreal na literatura e no cinema, onde, por vezes, são criados mundos e criaturas de modo a enriquecer-se a experiência do público, como observável em diversos livros e filmes de fantasia ou de ficção científica.] [em alternativa ao período anterior]
[Também na filosofia e na ciência é necessário, por vezes, contornar a realidade imediata de modo a chegar a certas conclusões. Pode ser necessário ignorar uma teoria instituída, tida como verdadeira, para chegar a novas conclusões, como pudemos observar em diversos momentos da História: no séc. XVI, Copérnico elaborou a teoria heliocêntrica, opondo-se ao geocentrismo, que era aceite na altura; no séc. XIX, Charles Darwin levou a comunidade científica a aceitar a Teoria da Evolução, em oposição ao Criacionismo.] [em alternativa ao parágrafo anterior]
Mas, se acreditamos que a recusa da realidade pode ser fértil no domínio da arte e do progresso científico e tecnológico, é também verdade que a nossa condição humana, que passa pela aceitação dos mais variados acidentes, como a doença, a morte, se orienta pela aceitação do que ultrapassa a nossa vontade e a nossa capacidade de atuar sobre a realidade.
Quem poderá alienar a inevitabilidade da morte, com os efeitos de grande sofrimento, sobretudo quando ela nos priva dos seres que nos são mais queridos?!
Ao longo da vida, confrontamo-nos com um grande esforço de aceitação e, simultaneamente, de acomodação à hostilidade da vida. A doença e a fome são realidades incapacitantes que, existindo de facto e determinando a nossa revolta, nos devem fazer olhar para a vida com uma grande vontade de marcarmos a nossa presença e de darmos o nosso contributo, o que nos leva a acreditar que, mesmo em contextos de aceitação, não nos podemos desligar da combatividade essencial para a nossa transformação do mundo – pela recusa do status quo!
Podemos, assim, concluir que este confronto é necessário para a expansão dos horizontes do conhecimento e da nossa perceção do que nos rodeia. A nossa avaliação da realidade do mundo e do Homem condicionará os comportamentos que se nos configurem mais pertinentes adequados.
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