Trabalho realizado por Bruno Pereira, 11º I, 2012/13
Prof. João Morais
Como traço da estrutura trágica de Amor de Perdição, atentemos no destino trágico do triângulo formado por Teresa, Simão e Mariana.
Teresa, jovem apaixonada, enfrenta vários obstáculos que tenta superar para a realização desse seu amor. Um desses impedimentos é o seu pai, Tadeu de Albuquerque, que pretende casá-la com Baltasar Coutinho, primo da jovem (“Vais hoje dar a mão de esposa a teu primo Baltasar, minha filha […] conhecerás que a tua felicidade é daquelas que precisam ser impostas pela violência”). Não conseguindo que a filha concorde com tal matrimónio encarcera-a num convento – inicialmente em Viseu enquanto esperava por ser admitida no de Monchique, no Porto –, o que leva a que ela se afaste do seu amado. Por desafiar a autoridade do seu pai, o sofrimento de Teresa e de Simão aumenta (pathos), o que se encontra bem patente na correspondência epistolar entre os jovens, por exemplo, no capítulo VII: “Ama-me assim desgraçada, porque me parece que os desgraçados são os que mais precisam de amor e de conforto”.
Ao lado da narrativa, vão surgindo notações do fatalismo (ananké), que marcou a vida de Simão, por exemplo o risco de morte à nascença (“Morto me disseram que tinhas nascido […]”).
Após algumas peripécias, Teresa continua no convento, Simão é preso por assassinar Baltasar Coutinho e é enviado para o desterro na Índia como pena pelos seus atos, acentuando-se, deste modo, o sofrimento, que atingirá um ponto culminante: a morte dos amantes (climax). Já no momento em que Simão embarca no navio que o levará para a Índia, recebe a notícia de que Teresa faleceu. É sobretudo no capítulo XX que ocorre a anagnórise e a peripécia, respetivamente o reconhecimento e a mudança do rumo dos acontecimentos. Após a morte de Teresa, é Simão quem morre vitimado de febre e delírio, tal como Mariana, que, desgostosa pela morte do seu amado, se lança às “envoltas águas do mar”, ocorrendo, assim, o desenlace (catástrofe). Devido ao desafio dos limites pelos heróis trágicos, dá-se o seu aniquilamento de modo a reestabelecer o equilíbrio inicial.
Em suma, reatualiza-se, de facto, uma estrutura trágica em Amor de Perdição, dado que as personagens seguem irrefletidamente os ímpetos do seu coração. Há uma intervenção de forças que transcendem o indivíduo e que o dominam. Perpassa toda a obra a emblemática duma paixão devida à não observância das conveniências e regras sociais.
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