Professor João Morais
É uma cidade que se expande, que acolhe cada vez mais indústrias e que, por isso, se torna cada vez mais desconfortável e, sobretudo, mais suja e insalubre, agravando e evidenciando as várias disparidades existentes entre as classes sociais.
Este ambiente citadino díspar e insalubre é claramente evidenciado no poema "Cristalizações", no qual o sujeito poético observa os calceteiros, que trabalham "terrosos", no chão, dando bem a ideia de insalubridade e labor árduo das classes sociais mais baixas, o que contrasta, fortemente, com a vida ociosa e perdulária das classes mais abastadas.
A observação desta realidade citadina decadente e injusta faz com que Cesário louve o trabalho das gentes humildes e trabalhadoras, como os calceteiros in "Cristalizações", o que não invalida, no entanto, que Cesário se sinta enclausurado e oprimido, na cidade como sublinhará ao longo de todo o poema «O Sentimento dum Ocidental».
Todavia, a cidade também se afirma como um lugar de deslumbramento em Cesário Verde. Tal deslumbramento provém das diversas perceções sensoriais que o sujeito lírico experimenta.
Na quarta parte («Horas mortas») d' "O Sentimento dum Ocidental", o eu remete, sobretudo, para a perceção visual da cidade, não deixando, porém, de exercitar outras sensações, como a sensação auditiva. No mesmo poema, Cesário escuta o som dum prego a soltar-se dum telhado, capaz de constituir, para ele, um "deslumbramento".
Esta experimentação das sensações que se produzem na cidade induzem nele o desejo de "eternamente buscar e conseguir a perfeição das coisas".
Em suma, podemos concluir que a cidade na poesia de Cesário Verde se apresenta, simultaneamente, como um lugar de opressão e deslumbramento.
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