Da poesia trovadoresca fazem parte as cantigas de amigo, que tratam o tema do amor não correspondido e são cantadas por uma donzela, vulnerável, de origem popular, que se encontra em sofrimento devido aos incidentes da sua relação amorosa com o seu amigo, lamentando assim a sua ausência ou indiferença. Neste tipo de cantiga o sujeito poético é, tal como referido, uma donzela. Porém, o poeta, por trás, é um trovador, que finge ser a mulher a expor as suas próprias penas.
Dependendo das cantigas em questão, é possível constatar a presença («Digades, filha, mha filha velida», de Pero Meogo) ou a ausência do objeto da cantiga, o amigo («Sedia-m’eu na ermida de Sam Simiom», de Meendinho).
Nas cantigas em que o amigo está de facto presente dá-se, por vezes, um encontro entre este e a donzela. No caso da cantiga «Digades, filha, mha filha velida», de Pero Meogo, a donzela tenta esconder este encontro da mãe. Noutros casos, como na cantiga «Bailemos nós já todas três, ai amigas», de Airas Nunes, a donzela aproveita a situação do calendário religioso em que se encontra para seduzir o seu amigo.
Quando se verifica a ausência do amigo, esta pode dever-se à sua ida para a guerra, ficando a donzela angustiada e infeliz tal como nos é dado a entender nas cantigas «Sedia-m’eu na ermida de Sam Simiom», de Meendinho, e «Ai flores, ai flores do verde pino», de D. Dinis. Nestas duas cantigas a donzela encontra-se em sofrimento devido à falta de notícias pela parte do amigo, que pode estar em perigo de vida. Na segunda a tristeza é ainda aumentada pelo facto de o amigo ter quebrado a promessa de se encontrar com ela.
Por fim, a cantiga «Levad’, amigo, que dormides as manhanas frias», de Nuno Fernandes Torneol, ilustra a evolução do comportamento da donzela no que toca à sua relação amorosa e sexual com o amigo. Numa primeira parte, a cantiga celebra o amor e, na segunda, a donzela acusa o amigo de ser o responsável pela falência da relação amorosa.
Concluindo, nas cantigas de amigo, identificam-se múltiplas facetas do romance amoroso entre os dois protagonistas que dão origem ao tormento de amor. Este tormento está associado à vulnerabilidade da donzela, à ausência e ao risco em que se encontra o amigo, à quebra de uma promessa e à falência do amor na relação dos dois.
Autor: Ana Morgado , 10ºA
Prof. João Morais