Na obra Os Lusíadas, de Luís de
Camões, existem duas vertentes: por um lado, a ideia de exaltação do herói
coletivo e dos seus feitos heróicos e, por outro lado, a ideia de desânimo, desalento
e denúncia do Poeta face aos seus contemporâneos, que representam a decadência
civilizacional do povo português outrora protagonista de grandes feitos.
Ao longo da Epopeia, o herói é
descrito de acordo com o rígido modelo de heroísmo estabelecido por Camões.
Esse herói coletivo, segmento alargado inscrito no povo português, é exaltado
pelos seus feitos extraordinários, que o fazem ultrapassar a condição humana e
elevar-se ao nível dos deuses.
Pelo contrário, também se verifica
uma vertente de denúncia geralmente no final dos cantos, no plano das reflexões
do Poeta, onde Camões faz intervenções nas quais reflete em relação à atuação
dos Portugueses seus contemporâneos. Nessas reflexões, o Poeta denuncia, entre
outros aspetos, a incultura e o materialismo da civilização portuguesa do mal
de Quinhentos. Estas mesmas denúncias tomam lugar nos finais dos cantos I,V, VIII,
IX e X.
Assim, no final do canto I, Camões reflete acerca da falsidade (“Que os pensamentos eram de inimigos.”)
e da incerteza que marca a vida do Homem, provocada pela fragilidade da
condição humana (“Que não se arme e
indigne o céu sereno / Contra um bicho da terra tão pequeno”), acabando por
mostrar a coragem e a persistência do herói épico face aos obstáculos que
encontra.
No final do canto V, o Poeta censura
o desprezo dos Portugueses pelas Letras e pelas Artes e conclui que, se esta
atitude prevalecer, poderá levar ao desaparecimento do canto épico em Portugal (“Sem vergonha o não digo: que a razão / De
algum não ser por versos excelente / É não se ver prezado o verso e rima”. – est.
97), o que impedirá o aparecimento de novos heróis (est. 98, vv. 1-4). Camões destaca ainda o papel didático e cívico
do canto, que incentiva as gerações seguintes a procurarem ultrapassar a
grandeza dos seus feitos (“Qualquer nobre
trabalha que em memória / Vença ou iguale os grandes já passados”- est. 92).
No canto VIII Camões denuncia a
excessiva importância dada ao dinheiro, o qual tem o poder de corromper o ser
humano, independentemente da sua classe social (“Quanto no rico, assi como no pobre, / Pode o vil interesse e sede
imiga / Do dinheiro, que a tudo nos obriga.”- est. 96) e recorre à
mitologia greco-latina para demonstrar os vários efeitos do dinheiro (est. 97), afirmando que este incita à
traição, à injustiça, à tirania e à hipocrisia, e corrompe as consciências (est. 98-99).
No final do canto IX, o Poeta explicita o significado da Ilha dos Amores,
referindo que esta recompensa representa a imortalidade, que aguarda todos os
que ultrapassarem o limite humano, elevando-se à condição de heróis (“Divinos os fizeram sendo humanos”).
Além disso, enumera as condições necessárias para que o Homem alcance a glória
(est.93,94,95) prometendo que serão mencionados entre os heróis se apresentarem
essas condições (“ (…) e numerados /
Sereis entre os Heróis esclarecidos / E nesta “Ilha de Vénus” recebidos”).
Por fim, nas estrofes finais do canto X, Camões dirige-se a Calíope para
expressar o seu desânimo e cansaço face à indiferença dos seus contemporâneos (“No mais Musa, no mais, que a Lira tenho”.).
Refere que a nação está mergulhada na cobiça e na rudeza (“No gosto da cobiça e na rudeza/ Dhua austera e vil tristeza”), mostrando
o seu desalento face à decadência moral de Portugal. Dirige-se ainda ao monarca
D. Sebastião para que ele continue a guiar os heróis para a glória e grandeza
do reino, na companhia de Portugueses com valor (“Senhor só de vassalos excelentes.”).
Em suma, Camões tem orgulho nos
portugueses do passado que realizaram feitos grandiosos ao darem “novos mundos
ao mundo”, utilizando, de certa forma, a vertente de denúncia de uma maneira didática,
como forma de incentivar os seus contemporâneos a serem igualmente
protagonistas de feitos extraordinários, alertando-os para os valores e
virtudes que devem cultivar.
Autor: Inês Vidal , 10ºB
Prof. João Morais
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