Era uma manhã normal, estava fechada no carro à espera que houvesse um milagre e que o tempo parasse. Tempo, aquilo que se diz infinito mas, no entanto, voa e nós nem damos por isso. Portanto, se ele parasse, teríamos todo o “tempo” do mundo (não foi a palavra mais adequada, mas não encontro uma outra palavra que defina tempo) para vivermos e aproveitarmos os bons momentos de uma forma mais intensa. Mas que sei eu sobre tempo?
Para me distrair deste pensamento, liguei o rádio. Mas sem sucesso. Por isso, olhei para o lado de fora da janela; poderia ser que encontrasse algo que não encontrava dentro do veículo onde me achava, todavia tudo o que vi foram pessoas também agitadas e posso crer que todas desejariam o mesmo que eu. “Este mundo e esta pressão estão a dar cabo de nós”, pensei.
Voltei para a posição que estava antes de olhar pela janela: pensativa e a ouvir palavras, melodias, rimas, vozes que não me diziam nada. É então que a música no rádio parou por um pouco e houve um silêncio mais prologado do que o habitual, despertando-me a audição. Depois de algum tempo deste silêncio que nada dizia nem acrescentava, apenas preenchia mais um espaço, soou uma voz não muito grave, uma voz que não era a do locutor, uma voz que não conhecia. Essa voz lia-me os pensamentos. Sabia perfeitamente o que estava a sentir, não que o tivesse dito, mas sentia-o assim como sinto que a vida está a andar muito depressa e nada posso fazer para a agarrar. Contudo, ao contrário de mim, essa voz tinha uma solução simples e eficaz para este meu problema: sorrir. Uma solução bastante consciente, devo dizer.
Dizia cada vez mais alto e de forma mais cativante para sorrirmos para as outras pessoas, porque, no fundo, o que todos pretendemos é darmos uma maior beleza ao mundo. Mandava sorrir para acabar com o muro que se ergue entre nós sempre que saímos de casa.
Olhei para o lado e vi… vi algo inexplicável. Todos sorriam, todos eram simpáticos e atenciosos de tal forma que me deixou com vontade de parar o tempo para sempre. Desta vez não para conseguir chegar a horas ao trabalho ou mesmo poder ver quem já nunca mais vai voltar. Desta vez era para recordar para sempre aquele momento. Há melhor forma de recordar tal e qual como é sem ser vivendo para sempre neste momento?
Por isso, sorri também. Mas sorri genuinamente porque toda aquela simpatia deixava-me fascinada. E então surgiu-me uma outra pergunta, que uma outra voz conseguirá responder: porque não sorrir sempre? Porquê toda esta arrogância? Enquanto essa voz não aparece, penso que só o mais profundo sentimento de cada pessoa vai saber responder.
Cheguei atrasadíssima ao trabalho, mas cheguei a sorrir, porque, com simpatia e amor, o mundo torna-se um lugar muito melhor. Um lugar onde dá vontade de nunca mais partir. Um lugar onde não nos ocupamos com o desejo de parar o tempo, pois torna-se um lugar que dura para sempre.
Prof.ª Raquel Teixeira