Recorrendo ao teu conhecimento ativo d’Os Lusíadas, constrói um texto bem estruturado de 200 palavras, no qual apresentes a dupla vertente de exaltação do herói e da denúncia na Epopeia.
Resposta:
Na Epopeia Os Lusíadas, o Poeta apresenta duas vertentes: a da exaltação do herói e a da denúncia civilizacional. A denúncia ocorre principalmente no final dos Cantos, quando o Poeta reflete sobre a sociedade do seu tempo, ou seja, sobre a geração cuja decadência se faz sentir em 1572, data da publicação da Epopeia.
A primeira destas reflexões acontece no final do Canto I quando o Poeta disserta sobre a incerteza na vida do Homem (Est.105, vv.7-8) e evidencia a sua fragilidade. Ultrapassar estas dificuldades contribui para a sublimação e o engrandecimento do herói d’Os Lusíadas.
O Poeta volta às suas reflexões no fim do Canto V, criticando a ignorância do povo português pelas Artes e Letras. Esta ignorância pode levar ao desaparecimento daqueles que cantam e imortalizam os feitos dos portugueses e assim as próximas gerações não serão incentivadas a ultrapassar estes feitos (Est.92, vv.3-4).
As reflexões do Poeta continuam até ao fim da Epopeia. No Canto VII, o Poeta denuncia a ingratidão dos portugueses que não sabem reconhecer o seu mérito e excluirá do seu canto aqueles que não lutarem pelo Rei (Est.84, vv.1-4).
As denúncias do Poeta regressam no final do Canto VIII, com a denúncia do poder do dinheiro, corruptor do Homem (Est.96.vv.7-8) ao nível de vícios como a traição (Est.98, vv.1-4), a corrupção das consciências (Est.98,. vv.5-8), da injustiça (Est.99, vv.1-2), promovendo o perjúrio (Est.99, v.3), a tirania (Est.99, v.4) e a hipocrisia (Est.99, vv.5-8).
De facto, no Canto IX, enquanto o Poeta reflete sobre o significado da Ilha dos Amores, sendo esta uma recompensa de Vénus pelo esforço dos portugueses (Est.88, vv.7-8), reforça as críticas apresentadas no Canto VIII, evidenciando a tensão entre a geração de Vasco da Gama e a geração em que Camões se encontra, sendo a primeira caracterizada por verdadeiros heróis que “[p]or feitos imortais e soberanos, / [...] / Divinos os fizeram, sendo humanos” (Est. 91 vv.2-4) e a segunda, por ignorantes e preguiçosos (Est. 92, vv.7-8).
Em adição a isso, no Canto X, o Poeta mostra-se triste e cansado porque a Pátria não reconhece o seu valor (“influxo do Destino / Não tem ledo orgulho” - est.146, vv.1-2). No entanto, o Poeta exorta o Rei a liderar o seu povo de «vassalos excelentes» para que continuem a realizar feitos valerosos pela nação (“Favorecei-os logo, e alegrai-os” - est.149, v.1) e ainda se disponibiliza a cantar os feitos futuros do rei numa nova epopeia (“Pera servir-vos, mente às Musas dada” - est.155, v.2). No fim da obra, Camões reforça uma ideia apresentada ao longo da obra (Canto V, est. 96, v.3), reforçando o modelo ético do herói, pois conjuga os valores enquanto homem social ao lado bélico e ao lado artístico (“Mas, nua mão a pena e noutra a lança”).
Concluindo, o Poeta reconhece os feitos dos portugueses e exalta o herói na sua obra, mas denuncia algumas das suas atitudes para que os portugueses possam aprender com os seus erros e continuem a ser imortalizados no futuro.
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