Trabalho realizado pelo aluno José Pereira, 11º B, 2012/13
Prof. João Morais
Os Maias fazem, ao nível da
crónica de costumes, uma acérrima crítica ao jornalismo português do Portugal
da Regeneração, realçando o seu sensacionalismo, a sua estrita relação com os
partidos políticos e o seu fracasso na prestação de informação edificante. Os
episódios d’ “A Corneta do Diabo” e d’ “A Tarde” são ótimos exemplos desta
denúncia de Eça de Queirós.
Por um lado, no episódio d’ “A Corneta
do Diabo” é demonstrada a falta de princípios do jornalismo e o fraco conteúdo
noticioso dos jornais (“É um jornal de pilhérias, de picuinhas [...]”; “[um] foliculário”).
Neste episódio Ega consegue suspender a publicação de um texto difamatório
sobre Carlos, subornando Palma Cavalão, o diretor do jornal, ficando aqui clara
a corrupção do jornalismo e falta de deontologia dos jornalistas (“[...] o
artigo fora-lhe encomendado e pago [...]” ; “[por] cem mil réis”). Palma
despreza, assim, a função informativa inerente ao serviço público que qualquer
jornal deve perseguir, manifestando um interesse meramente pecuniário.
Por outro lado, o episódio d’ “A Tarde”
mostra-nos a parcialidade do jornalismo, que, muitas vezes, também no terceiro
quartel de Oitocentos, é usado para propaganda política. Isto é representado
pela inicial recusa dada a Ega por Neves, quando este pensa que o injuriado na
carta que Ega quer fazer publicar é um “amigo político”. Quando descobre que,
afinal, se trata do Dâmaso Salcede, promove a publicação da carta, já que este
os “enganara na última eleição”, mais uma vez deixando clara a interferência da
sua orientação política na atividade do seu jornal (“[...] com estas coisas de
Ministério, uma carta dessas escrita pelo Guedes... Se é o Salcede, bem,
acabou-se!”). O jornalismo surge, assim, como atividade subsidiária do
clientelismo político, não havendo, mais uma vez, lugar para o exercício do
interesse público, que passa por informar o público com isenção e
profissionalismo.
Ainda no jornal «A Tarde», não se
distinguem os profissionais do jornalismo dos caciques da política, que vão
alimentando «esperanças de emprego» aos «deputados que a crise arrastara a
Lisboa […], àquele jornal do partido […]. Além disso, deparamos também com um
profissional da redação do jornal (Melchior), a tentar fazer «uma coisa sobre o
livro do Craveiro», mas sem sucesso, já que, na expressão de Ega, «aqui são
simples localistas», e segundo o narrador, os jornais abdicaram «[…] de todas
as funções elevadas de estudo e de crítica […].
Há também outras situações de crítica
ao jornalismo nomeadamente ao caráter dos jornalistas e ao conteúdo das
notícias. Os jornalistas, representados por Palma Cavalão, são descritos como
fracos moralmente e sem escrúpulos (“[...] qualquer coisa sebácea e imunda [...]”)
como podemos ver na passagem da ida de Carlos a Sintra, quando encontra Palma Cavalão
acompanhado de Eusebiozinho e duas prostitutas. Também é ridicularizado o
conteúdo dos jornais que apenas se interessam por assuntos da vida privada das
figuras mais importantes de Lisboa (High
Life) relegando para segundo plano a informação importante sobre o país (“O
distinto e brilhante sportman, o Sr.
Carlos da Maia, e o nosso amigo e colaborador João da Ega, partiram ontem para
Londres [...]”).
Como vemos, Os Maias são um romance realista e, assim, com um forte pendor de intervenção,
e fazem um acérrimo julgamento dos vícios da sociedade portuguesa, incidindo
grande parte dessa crítica no jornalismo, numa tentativa de este melhorar numa
altura em que o país tanto precisa de uma população informada. A representação
de ambientes, tipos sociais e situações naturalmente motivadas conferem
verosimilhança, promovendo, assim, a leitura de um público que se pretende mais
informado.
Sem comentários:
Enviar um comentário