Prof. João Morais
Não se tratando de uma personagem tipo, já que evolui e tem densidade psicológica, dele são feitas diversas críticas e denúncias pelas deficiências representativas de uma mentalidade.
Por um lado, é através de Carlos que, por comparação a outros seus conterrâneos, se critica a educação portuguesa. Foi educado segundo os costumes ingleses, sendo valorizados a atividade física, as línguas vivas, o sentido prático da vida, a moral baseada em valores eminentemente humanos e não religiosos. É um jovem saudável e forte, com grandes aptidões intelectuais. Por outro lado, a educação portuguesa, baseada na cruz e no catecismo, na falta de exercício físico, promove a compleição fraca e enfermiça, como será o caso de Pedro da Maia e de Eusebiozinho.
Concorre, porém, com a educação à inglesa do jovem Maia um forte anátema da classe portuguesa alta – o diletantismo. Ao longo da obra, Carlos, bem como Ega, mostra-se superior aos seus compatriotas, tanto ao nível intelectual como cultural, não se contendo nas críticas à sociedade portuguesa que um olhar superior autoriza. Porém, quando confrontado com uma oportunidade de fazer algo útil, abandona rapidamente os projetos, após um breve período de entusiasmo. Deste modo, Carlos é um inegável exemplo de que o país não evolui: os que têm a capacidade para fazer algo de bom nada fazem.
Por outro lado, Pedro da Maia e Eusebiozinho representam os efeitos que a educação à portuguesa produz nas personagens ao longo do seu percurso vivencial. A fragilidade genética do primeiro é corroborada pelo protecionismo e pelo conservadorismo de Eduarda Runa. Transformar-se-á num fraco que, perante as adversidades da vida, soçobrará. O suicídio será o fim inevitável de uma tristeza resultante da fuga da Monforte com Tancredo, ao nível da intriga secundária, contrastando com o caso de Carlos, que, ao nível da intriga principal, mesmo nas adversidades, soube recorrer a estratégias diferentes para encarar as adversidades.
Eusebiozinho será igualmente vítima da educação à portuguesa. A sua baixa estatura moral, decorrendo da aprendizagem de um catecismo decorado e babujado para alegria da titi e da mamã e não da assimilação de princípios e valores eminentemente humanos, será ilustrada na sua interação com prostitutas e com atos vis como o facto de ser intermediário no episódio do jornal «A Tarde», com o propósito de se vingar de Carlos, dum modo cobarde.
É através destes aspetos que se pode concluir que, de facto, Os Maias apresentam uma vertente de literatura de combate, na forma da crítica à sociedade, procurando a obra fazer rever ideias e mentalidades num leitor que se pretende não seguidor das personagens que prevaricam no largo leque da sociedade lisboeta da segunda metade de Oitocentos.
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