BREVE APRESENTAÇÃO DAS CANTIGAS DE AMIGO
A cantiga de amigo é um dos géneros
de poesia trovadoresca ou poesia galaico-portuguesa, de origem popular, oral e tradicional.
Neste tipo de poesia estão presentes três intérpretes: o trovador, que compunha
estas cantigas; o jogral, que as executava e andava de corte em corte; e as soldadeiras, que dançavam ao som destas
cantigas a troco do soldo. Estes
intervenientes artísticos aparecem documentados nas iluminuras que nos ficaram
do tempo mais tardio em que as cantigas ficaram registadas na escrita. Vejam-se
a este título as iluminuras do pergaminho de Vindel, das cantigas de Martin
Codax
Na cantiga de amigo a donzela
exprime a sua situação amorosa em relação ao amigo, e o que provoca saudade é a
ausência deste porque está normalmente ao serviço do rei ou na guerra contra os
muçulmanos.
As amigas são confidentes do estado
sentimental da donzela (as "avelaneiras" da bailia ou bailada
«Bailemos nós já todas três, ai amigas», de Airas Nunes). O papel de confidente
pode caber também à mãe ou à natureza: «Ai flores, ai flores do verde pino», de
D. Dinis». Algumas destas cantigas são em forma de diálogo com a mãe («Digades,
filha, mha filha velida»), com as amigas, ou com a natureza personificada («– Ai
flores, ai flores do verde pino,/se sabedes novas do meu amigo!»; «– Vós me
perguntades polo voss' amigo/e eu bem vos digo que é san' e vivo.»).
Existem vários subgéneros das
cantigas de amigo. Temos o exemplo da bailia ou bailada, composta de tal
maneira que podia ser cantada e dançada, e distingue-se pela sua marca musical,
onde predominam o paralelismo e o refrão («Bailemos nós já todas três, ai
amigas», de Airas Nunes). Outro dos subgéneros deste tipo de poesia
trovadoresca é a barcarola ou marinha («Sedia-m'eu na ermida de Sam Simiom», de
Meendinho), onde o mar constitui o elemento essencial. É o mar o motivo da
separação dos apaixonados bem como o meio para o reencontro de ambos. As ondas
simbolizam o tumulto interior do coração da apaixonada. Nestas cantigas, é ainda
frequente a presença de ermidas onde a donzela se encontra geralmente isolada e
a referência feita a romarias, daí o nome de outro subgénero: as cantigas de
romaria.
O paralelismo é uma característica
estrutural deste tipo de poesia e consiste na repetição simétrica de palavras e
construções. O leixa-prem torna-se
indispensável para a cantiga paralelística perfeita («Ai flores, ai flores do
verde pino», de D. Dinis). Neste tipo de paralelismo os versos do primeiro
dístico emparelham com os versos do segundo do mesmo par, variando apenas a
palavra rimante. O terceiro dístico retoma o segundo verso do primeiro dístico
e é inserido um novo verso, cuja variante aparecerá no dístico seguinte, e
assim sucessivamente (leixa-prem).
Quando não ocorre o paralelismo perfeito, verifica-se pelo menos a existência
do paralelismo semântico, que consiste na repetição do conteúdo ao longo dos
versos seguintes.
Outro dos aspetos das cantigas de
amigo é a alternância da rima em /i/ e /a/, correspondendo, por exemplo, às
palavras amigo e amado.
Nestas cantigas permanecem vários
símbolos como o cervo na cantiga «Digades, filha, mha filha velida», de Pero
Meogo, que representa a masculinidade e a presença do amigo.
Estas composições manifestam um amor
espontâneo e promissor ou podem ser expressão de sofrimento devido ao amor não
correspondido. Assim, são vários os estados de espírito revelados pela donzela,
o amor tranquilo e a alegria da paixão; a ansiedade e a tristeza porque o amigo
não dá notícias, dado que está ausente; os ciúmes e as promessas de vingança
pela infidelidade por parte do amigo.
Em suma, é esta espontaneidade que
ressalta da variedade de motivos que, ainda nos nossos dias, nos seduz e
enternece.
Autor: Ana Amorim, nº 2, 10º C
Prof. João Morais
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