http://bi.gave.min-edu.pt/exames/download/portuguesB639_pef2_07.pdf?id=2973
Prof. João Morais
Na primeira estrofe do poema são apresentados dois momentos temporais: a noite, no passado recente (v.1), e a madrugada, no instante presente (v.3). A noite é caracterizada como um tempo longo, de vigília, de insónia (“Em toda a noite o sono não veio”).
Passada a noite, surge a manhã “encoberta e fria” (“Agora/Raia do fundo/Do horizonte, encoberta e fria a manhã”). Segue-se um dia igual a todos os outros que já passaram (“Um dia igual a todos os outros, da eterna família/De serem assim”).
Tal como a manhã, a noite também não representa qualquer esperança para o sujeito lírico (“Nada que a noite acalme ou levante a aurora”). Os dois tempos têm, assim, uma relação de semelhança.
Como não sabe o que fazer, autoquestiona-se (“Que faço eu no mundo?”) e como resposta à sua interrogação ele exclui a possibilidade de quer a «noite», quer a «manhã» poderem conferirem-lhe tranquilidade (“Nada que a noite acalme ou levante a aurora,”) e um sentido para a vida («Coisa séria ou vã.»).
O sujeito poético considera, assim, a «manhã» o resultado, o efeito da «noite» (“Da manhã que vem / saindo lenta da própria essência da noite que era”).
Esse «horror» deve-se também ao desespero que o sujeito lírico experimenta porque o amanhecer traz sempre o mesmo dia, um dia igual aos outros, sem grande novidade ("Um dia igual aos outros" - v.11): aos seus olhos são um ciclo eterno, que nunca para ("da eterna família/ De serem assim" vv. 11-12). Ele tem plena consciência de que o tempo é completamente indiferente a esse ciclo eterno, à repetição dos dias sempre iguais.
[Outra razão do "horror" referido no verso 8 é o cansaço de tanto esperar por mudanças, por dias diferentes e não os obter ("Por tantas vezes ter 'sperado em vão" - v.17). O sujeito poético já não espera uma mudança na sua rotina, na sua vida e no mundo ("O mesmo dia trazer-me o mesmo dia do fim/ Do mundo e da dor" - vv.9-10). E por tanto esperar em vão, ele acaba por perder as esperanças de que essa mudança aconteça («Para quem / [...] / Já nada ’spera» – vv. 16-18). Ao perder a esperança, o poeta passa a considerar que tudo deixa de ter significado ("Nem um símbolo ao menos vale a significação" - v. 13).] Raíssa Silva (12º A)
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