O herói d’Os Lusíadas é coletivo: trata-se duma parte do povo português que,
ao longo da sua história, realizou obras excecionais, distinguindo-se pelo
mérito e pelos seus valores.
A epopeia de
Camões define um modelo de heroísmo. O herói corresponde a um ideal humano,
estando ao serviço do rei, de Deus e da sua comunidade. Ascende a este estatuto
aquele que, pelo mérito, pelas suas virtudes e pelos atos realizados,
ultrapassa a sua condição de homem e se eleva a um plano superior. O herói
conseguiu superar a sua fragilidade humana, passando por dificuldades tanto na
guerra como no mar (Canto I, est. 106: «No mar tanta tormenta e tanto dano /
(...) Na terra tanta guerra, tanto engano»), acabando por demonstrar a sua
coragem e persistência face aos obstáculos.
Camões também
reflete acerca da posição dos seus contemporâneos face às artes e às letras. O
poeta destaca o papel didático e cívico do canto, que, ao imortalizar os
heróis, incentiva as gerações seguintes a procurarem ultrapassar a grandeza dos
seus feitos (Canto V, est. 92: «Qualquer nobre trabalha que em memória / Vença
ou iguale os grandes já passados»). Lamenta a falta de cultura dos portugueses,
que, apesar de bravos e destemidos, não valorizam a poesia e são insensíveis,
pois «quem não sabe arte, não na estima» (Canto V, est. 98: «(...) a ventura / Tão
ásperos os fez e tão austeros»), ao contrário do que sucedia com os guerreiros
da Antiguidade (Canto V, est. 93-96: «E as armas não lhe impedem a ciência; /
Mas, nũa mão a pena e noutra a lança»). A falta de interesse poderá levar ao
desaparecimento do canto épico em Portugal, o que impedirá o aparecimento de
novos heróis (Canto V, est. 98, vv. 1-4).
O poeta
apresenta-se a si próprio como um exemplo da concretização do ideal de heroísmo
definido no Canto V, na medida em que concilia os feitos guerreiros com a
cultura. Ele evoca episódios da sua vida marcados pelas dificuldades e aponta
para o facto de nunca ter deixado de cantar os feitos grandiosos dos seus
concidadãos (Canto VII, est. 79-80: «A Fortuna me traz peregrinando, / Novos
trabalhos vendo e novos danos»; «Nũa mão sempre a espada e noutra a pena»).
Lamenta ainda a ingratidão de que tem sido alvo por parte dos portugueses, que
não reconhecem o seu mérito pela elaboração de uma epopeia nacional (Canto VII,
est. 81-82: «Trabalhos nunca usados me inventaram»; «Que assim sabem prezar,
com tais favores»). Finalmente, anuncia aqueles que excluirá do seu canto: os
que antepõem os seus interesses aos do rei e do bem comum, os ambiciosos, os
exploradores do povo e os que praticam a injustiça (Canto VII, est. 84-86).
Apenas cantará aqueles que arriscam a vida pelo Rei e pela Pátria (Canto VII,
est. 87, vv. 1-4).
O herói
apresenta ideias nobres e menospreza os valores mundanos do dinheiro e do
poder. Camões denuncia a excessiva importância dada ao dinheiro, o qual tem o
poder de corromper o ser humano, independentemente da sua classe social (Canto
VIII, est. 96: «Quanto no rico, assi como no pobre, / Pode o vil interesse e
sede imiga / Do dinheiro, que a tudo nos obriga.»). O poeta recorre à mitologia
greco-latina para demonstrar os vários efeitos do dinheiro (Canto VIII, est.
97), afirmando que este incita à traição, à injustiça, à tirania e à
hipocrisia, e corrompe as consciências (Canto VIII, est. 98-99).
Em suma,
Camões glorifica os feitos admiráveis do herói d’Os Lusíadas, os portugueses ilustres, principalmente na guerra,
imortalizando-os no processo ao difundir as suas ações heróicas através da
escrita. Por outro lado, também exprime críticas em relação aos seus defeitos,
nomeadamente a sua atitude de falta de apego aos valores espirituais.
Autora: Oleksandra Sokolan, 10ºC
Prof. João Morais
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