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3. Valorizar a BE como elemento integrante do Projeto Educativo;

4. Abrir a BE à comunidade local.


De acordo com a sua natureza e integrando os referidos objetivos, o BlogBESSS corresponde a uma proposta de aprendizagem colaborativa e de construção coletiva do Conhecimento, incentivando ao mesmo tempo a utilização/fruição dos recursos existentes na BE.


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PS - Uma leitura interessante sobre a convergência entre as Bibliotecas e os Blogues é o texto de Moreno Albuquerque de Barros - Blogs e Bibliotecários.


domingo, 18 de fevereiro de 2018

Folhas Caídas: uma experiência de leitura

·         Introdução
        A obra Folhas Caídas, de Almeida Garrett, engloba um conjunto de poemas de temática amorosa, escritos no fim da vida de poeta. Ao que se crê, estas composições poéticas são um reportório em verso dos sentimentos que a paixão pela Viscondessa da Luz terá despertado em Garrett.
        Nesta obra observa-se uma poesia confessional, um misto de sinceridade e fingimento, exibicionismo e desengano.
        A obra é inovadora pela forma utilizada, com o predomínio da redondilha maior e da menor, o uso da sinestesia e uma certa conceção dramática que subjaz à maioria dos poemas e que se traduz no tom coloquial da linguagem. 
       Esta coletânea de poemas é, sem dúvida, a mais interessante de Garrett e é nela que mais livremente se expande o individualismo romântico e a frescura dum estilo solto e sem peias.

A Advertência
      A anteceder os poemas, pode ler-se a Advertência datada de Janeiro de 1853. Nela encontram-se algumas linhas de leitura da poesia amorosa deste livro.
       Na Advertência, Garrett começa por sugerir que a coletânea Folhas Caídas não é fruto de um acaso, antes o produto de uma escolha criteriosa (“ [...] essas folhas de poesia que por aí caíram vamos escolher uma ou outra que valha a pena conservar […] ”).
      No parágrafo seguinte é possível reconhecer que Garrett tem a peculiaridade de saber jogar com o leitor, desculpando-se sempre (“ Enganei o público, mas de boa-fé, porque me enganei primeiro a mim.”).
      De seguida, o autor refere o tom confessional e intimista que perpassa os diversos poemas da obra (“ Os cantos que formam esta pequena coleção pertencem todos a uma época de vida íntima e recolhida […] ”) e afirma que haveria de ser poeta em tudo e durante toda a vida, reforçando, deste modo, o seu carácter romântico (“ Poeta na Primavera, no Estio e no Outono da vida, hei de sê-lo Inverno, se lá chegar, e hei de sê-lo em tudo”).
     Mais à frente ainda na Advertência, o poeta mostra a sua indiferença perante a reação do público aos seus poemas (“ E como nada são por ele nem para ele, é provável que o público sinta bem diversamente que o autor. Que importa?”). É de destacar também o facto de Garrett considerar que o melhor juiz que pode ter é ele próprio, enquanto homem lúcido, de olhos abertos (“ [...] parece-me que o melhor e mais reto juiz que pode ter um escritor é ele próprio, quando o não cega o amor-próprio. Eu sei que tenho os olhos abertos […] ”).
     Neste seguimento, Almeida Garrett reconhece os defeitos dos seus poemas, mas revela-se incapaz de os queimar (“Enfim, eu não queimo estes.”), pois, na sua opinião, esta tarefa não lhe cabe a si, mas ao Deus que o inspirou na elaboração dos mesmos (“E o deus que os inspirou que os aniquile se quiser: não me julgo no direito de o fazer eu”). Este deus desconhecido (Ignoto Deo), a quem o poeta consagra os seus versos, é mistificado e envolvido num manto de mistério (“O meu deus desconhecido é realmente aquele misterioso, oculto e não definido sentimento de alma […] ”).
     Na parte final da Advertência, Garrett fala sobre a loucura do poeta que aspira atingir o impossível, o infinito, estabelecendo-se uma contradição entre a aspiração dos poetas ao ideal e ao infinito (“ […] que tendendo para o fim único, a posse do Ideal […] ”) e a incapacidade dos mesmos de o atingir (“Ao infinito não se chega, porque deixava de o ser em se chegando a ele.”).
    Por fim, o autor termina a Advertência sublinhando o estatuto do poeta enquanto ser incompreendido (“ [...] vós não entendeis nada dele.”). Este revela-se ao mesmo tempo como um ser superior, que na morte apenas perde a matéria, a pequena parte em que se assemelha aos homens (“ […] só morrerá dele aquilo em que se pareceu e se uniu convosco.”), prevalecendo eterno o seu espírito.
Este inferno de amar
    Em primeiro lugar, neste poema é feita uma reflexão sobre uma relação amorosa que funciona ao mesmo tempo como fonte de vida e de dor para o eu poético.
    Esta composição poética, cujo tema gira à volta das contradições do amor, pode dividir-se em três partes lógicas. Na primeira parte, a primeira estofe, o eu poético pergunta a si próprio como foi possível aparecer em si esse amor fatal (“Quem mo pôs aqui n'alma... quem foi?”),  que, a um tempo, o consome e lhe dá vida (“Esta chama que alenta e consome,/Que é a vida […] ”). Na segunda parte, a segunda estrofe, o sujeito poético recorda-se com saudade da vida serena e sonhadora que tinha vivido antes (“A outra vida que dantes vivi/ Era um sonho talvez […] / Em que paz tão serena a dormi!”), questionando-se depois sobre quem o veio tirar desse sonho (“Quem me veio, ai de mim! Despertar?”). Na terceira parte, isto é, na terceira e última estrofe, o eu poético parece encontrar o motivo desse fatal amor (“E os meus olhos […] / Em seus olhos ardentes os pus.”) que veio modificar a sua vida.

   Por outro lado, é de notar a relação de oposição que se estabelece entre o presente e o passado neste poema de Garrett. O presente (primeira estrofe) surge em oposição a um duplo passado: o passado anterior à amada (segunda estrofe) e o passado com a mesma (terceira estrofe). Assim, pode inferir-se que o sentido dubitativo do poema (“ Que fez ela? Eu que fiz?”) é também visível na sua organização interna, que não é determinada por uma ordem cronológica.

    Através da análise do poema, é possível perceber que o retrato da mulher aqui presente é o da mulher fatal, típica do Romantismo, que arrasta o eu poético para o abismo da perdição. Esta mulher proporciona ao sujeito poético uma vida de “inferno”, com uma relação amorosa ardente desde o momento em que se conheceram, tornando ela a existência do eu poético desejada, viva, com razão de ser.

     Relativamente à forma, esta composição poética é constituída por três sextilhas. A rima não obedece a um esquema rígido sendo cruzada no segundo e quarto verso, emparelhada no quinto e sexto e branca nos restantes – expressão da liberdade que Garrett inaugura na poesia portuguesa. Quanto ao ritmo do poema, verifica-se uma cadência ternária com acentos na 3ª,6ª e 9ª sílabas métricas.

     Neste poema, Garrett utiliza uma linguagem simples e recorre a diversos recursos de estilo para transmitir os estados de espírito do eu poético e obter um lirismo subjetivo e profundo. Entre estes recursos de estilo destacam-se a metáfora (“este inferno de amar”) e a antítese (“alenta e consome”- efeito contraditório do amor).

      Por fim, é também importante sublinhar as características românticas presentes tanto na forma como no conteúdo do poema. Relativamente à forma, para além da escrita livre sem rigor no metro e na rima, a linguagem é simples e o ocorre uma panóplia de recursos estilísticos para representar o estado de alma do sujeito poético. Destaca-se a utilização de uma linguagem coloquial com predomínio para repetições, interjeições, frases interrogativas e suspensas, como marca do Romantismo. Por outro lado, relativamente ao conteúdo, o tom retórico, a hiperbolização do sofrimento do eu poético, a divinação da mulher como mulher fatal e a importância dos sentimentos são marcas românticas muito presentes neste poema de Garrett.
      Em conclusão, interroga-se a natureza do amor num poema de uma veemência raramente atingida na poesia portuguesa.
 Os cinco sentidos
                Em primeiro lugar, nesta composição poética há uma superlativação da mulher amada face à Natureza. Verifica-se uma dependência do eu poético relativamente a essa mulher, em virtude de não lhe serem despertados quaisquer dos cinco sentidos sem ela e não encontrar qualquer prazer, beleza, alegria no mundo exterior. Todos os seus sentidos estão centrados e orientados para ela (“A ti! ai, a ti só os meus sentidos/ Todos num confundidos,/ Sentem, ouvem, respiram;”).
                Este poema, cujo tema passa pelo amor sensual, erótico e mesmo pela excitação carnal, pode ser dividido em duas partes lógicas. A primeira parte, as primeiras cinco sextilhas, corresponde ao registo das cinco sensações do sujeito poético a partir do que a Natureza e a amada lhe oferecem (“Mil cores - divinais têm essas flores; […] / Não vejo outra beleza/ Senão a ti - a ti!”), num crescendo de sensações tendentes noa segunda parte ao paroxismo do êxtase. A segunda parte, a última estrofe, sintetiza a entrega total do eu poético à amada (“A minha vida em ti;/ E quando venha a morte,/ Será morrer por ti”).
                Relativamente ao conteúdo de cada estrofe, na primeira sextilha existe uma incapacidade por parte do eu poético para apreciar a beleza das estrelas e das flores, pois está obcecado pela beleza da mulher amada (“Em toda a natureza/ Não vejo outra beleza/ Senão a ti […] ”). Nesta estrofe é estabelecida uma relação entre a amada e a Natureza, verificando-se uma superlativação desta última através da conjunção adversativa mas (“Mas eu não tenho, amor, olhos para elas”), do advérbio de exclusão senão, da repetição da expressão a ti e pela exclamação final (“Senão a ti - a ti!”). Ainda relativamente à primeira estrofe é importante salientar que todo o discurso do eu poético se destina à amada, cuja presença silenciosa está patente no vocativo amor e pelas formas pronominais da segunda pessoa.
                Na segunda sextilha o sujeito poético revela-se incapaz de apreciar a voz harmoniosa do rouxinol (“[…] mas eu do rouxinol que trina/ Não oiço a melodia”), pela razão da  sua audição apenas captar os sons da mulher amada, constatando-se, nesta estrofe e no resto do poema uma superioridade da amada em relação à Natureza, facto que concorre para o seu estatuto de mulher-anjo, típico do romantismo.
                Na terceira, na quarta e quinta sextilhas o eu poético revela-se igualmente incapaz de apreciar a natureza, ao nível do olfato, do paladar e do tato respetivamente. É de destacar o reforço do caráter erótico do amor na quarta e quinta estrofes. Na última estrofe, verifica-se que os sentidos do eu vibram na presença da amada, a quem ele entrega a sua vida (“A minha vida em ti;/ E quando venha a morte,/ Será morrer por ti”), sofrendo, assim, de uma morte de amor por excesso de felicidade e prazer, ou seja, uma morte que se renovará no orgasmo do fim da comunhão sexual.
                Ao longo desta composição poética de Garrett, a referência aos cinco sentidos está organizada de forma progressiva nas cinco primeiras estrofes: do mais distante (visão) ao mais próximo (tato), do mais abstrato ao mais concreto, da observação exterior ao contacto físico.
                Neste poema, Garrett recorre a metáforas para confirmar o carácter erótico da composição poética (“relva luzidia” = corpo da mulher), comparações para exaltar a mulher amada (“ São belas… Senão a ti”), hipérboles (“Mil cores”) e à anáfora da expressão a ti para mostrar o estado emocional do sujeito poético. A sensualidade que ressuma das palavras e do ritmo terão feito corar as faces mais pudicas dos leitores que, porventura, terão lido estes versos às escondidas.
                Será assim ainda hoje?
                Relativamente à forma, o poema é composto por cinco sextilhas e uma oitava final. As sextilhas apresentam três versos decassilábicos e três versos hexassilábicos, enquanto a oitava tem um verso decassilábico e os restantes hexassilábicos. Quanto à rima, esta é cruzada e emparelhada tanto nas sextilhas como na oitava, apresentando as sextilhas igualmente versos brancos.
                Por fim, este poema apresenta características românticas, das quais se destacam a ligação amor e Natureza, a valorização da sensualidade, o individualismo, a presença do ideal da mulher-anjo e a rejeição do conhecimento racional pelos sentidos.

·         Cascais
                Este longo poema, cujo tema é a saudade, divide-se claramente em três partes. Na primeira parte, da primeira à terceira estrofes, o sujeito poético descreve a Natureza (“O mar que incessante brama…/ Tudo ali era braveza/ De selvagem natureza.”). Esta descrição apresenta uma conotação positiva e corresponde ao passado do eu poético antes da amada. De seguida, na segunda parte desta composição poética, da quarta à oitava estrofes, a descrição das estrofes anteriores dá lugar à narração e o eu poético narra o seu passado com a amada, tempo de felicidade amorosa (“Ali sós no mundo, sós,/ Santo Deus! Como vivemos!”). Na terceira parte, isto é, nas três últimas estrofes, o sujeito poético retoma a descrição, mas desta vez esta apresenta uma conotação negativa (“Mas o céu já não começa:/ Sumiu-se na treva espessa, / E deixou nua a bruteza”). A diferença entre as duas visões da Natureza resulta da alteração dos sentimentos do sujeito poético (“Oh! Que fatais desenganos,”).
                A descrição da Natureza neste poema de Garrett corresponde a uma visão romântica, quer pelos elementos que a compõem, quer pela caracterização dos mesmos, quer pela imagem global que dela resulta (“braveza”, “selvagem natureza”, “bruteza”, “agreste natureza”). Ainda no âmbito do modelo romântico encontramos a relação amorosa entre o sujeito poético e a amada, visto que se verifica o isolamento (“sós no mundo sós”), a exclusividade (“Como ela vivia em mim/ Como eu tinha nela tudo”), a perda de noção da realidade (“essas horas fugidias/ séculos na intensidade”) e a impossibilidade de se realizar no presente (“depois os senti/ Os travos que ela deixou…”).
                Neste longo poema de onze estrofes de seis versos, com um esquema rimático fixo (ababcc), existe um espaço delimitado, à semelhança das obras dramáticas, dentro do qual se desenrola a narrativa sentimental (amei, deixei de amar). Este espaço é a serra, mais concretamente “ali” onde acaba a Terra (“Acabava ali a Terra”). Esse ponto concreto é referido por diferentes deíticos espaciais nas três partes do poema (“Aí na quebra do monte”; “Ali sós no mundo […] ”; “Lá onde se acaba a Terra”). Esta alteração de posições está relacionada com a passagem do tempo, elemento estrutural deste poema. A passagem do tempo corresponde à mudança dos sentimentos do sujeito poético dentro do esquema tipicamente romântico: ao passado corresponde o tempo da felicidade; o presente é o tempo da desilusão e do sofrimento.

                Em conclusão, este poema retrata o drama do tempo que mata o milagre do amor, refletido no lugar (Cascais). O lugar é o mesmo e já não é, ela é a mesma e já não é, ele é o mesmo e já não é, visto que o tempo passou. No entanto, Cascais é a memória.

·         Barca bela
                Nesta composição poética, cujo tema é o poder de sedução da mulher, Garrett alerta todos os homens para os perigos que podem advir de um relacionamento amoroso.

                Neste poema, alguns elementos encontram-se revestidos de simbolismo, isto é o caso da estrela que simboliza a fatalidade e da sereia que é simbolicamente usada para designar os perigos.

                Este poema de Garrett pode ser dividido em três partes lógicas. Na primeira parte, a primeira quadra, há uma constatação da beleza da mulher (“Que é tão bela?”). Na segunda parte, da segunda à quarta quadra, o sujeito poético alerta o pescador das precauções (“Colhe a vela,”) a tomar para não cair em tentação (“ Não se enrede na rede dela”) e avisa-o acerca de possíveis perigos (“Deita o lanço com cautela,/ Que a sereia canta bela…/ Mas cautela,”). Na terceira parte, isto é, na quinta estrofe, o eu poético dirige um apelo ao amante para que não se envolva (“Pescador da barca bela,/ Inda é tempo, foge dela,”).

          Relativamente à caracterização da mulher verifica-se que esta é ao mesmo tempo descrita como fonte de beleza e de encantamento (“Que é tão bela”; “Que a sereia canta bela”) e como fonte de perigo (“Foge dela”).

         Este poema apresenta uma variedade de recursos estilísticos, entre os quais se encontram: a metáfora, presente, por exemplo, na sereia que simboliza a sedução e os perigos da vida; a apóstrofe (“Pescador da barca bela,”); e a aliteração (“ […] barca bela,/ […] com cautela”).

          Em termos linguísticos, nesta composição poética predominam o uso do imperativo (“Colhe a vela,”), o tom coloquial (“Onde vais […] ”; “Inda […] ”), os trocadilhos (“ […] enrede a rede […] ”) e as repetições (“Pescador da barca bela,/ […] foge dela,/ Foge dela,/ Oh pescador!”), as quais mostram a urgência do apelo e a iminência do perigo.

        Quanto à forma, este poema é composto por cinco quadras, nas quais dois versos são heptassilábicos, e os outros dois são trissilábico e tetrassilábico, respetivamente. O esquema rimático é aaab em todas as estrofes pelo que a rima é emparelhada, havendo igualmente um verso solto em cada quadra.

        Neste poema encontram-se presentes alguns aspetos românticos: a superioridade e a atração fatal da mulher (sereia), a ligação à poesia popular e a acentuação da teatralidade do discurso.

       Em conclusão, esta composição poética de Garrett é notavelmente marcada pelo Romantismo do qual o poeta foi um exemplar seguidor, tratando-se este poema de um conselho de fuga e de renúncia ao amor.
                                                                                                                                           
·         Conclusão
       Tendo escandalizado o público leitor da época, que no entanto o lia avidamente, é comovente vermos como a alma de Garrett se desnuda em Folhas Caídas, não hesitando em se expor ao ridículo devido à exploração do escândalo e da sensualidade.

      Em Folhas Caídas, o seu último livro de poemas, Garrett liberta-se definitivamente da formação arcádica e compõe uma obra inovadora e moderna, tanto pelo conceito de amor que nela canta, uma devastadora paixão sensual, como pela métrica, inspirada na poesia popular, com predomínio da redondilha maior e menor, como pela expressão liberta de peias e convenções.

Autora: Inês Vidal, 11º B
Prof. João Morais

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

A Mensagem – a superação da história e do concreto e uma atitude empreendedora do futuro

A Mensagem, de Fernando Pessoa, constitui um conjunto de poemas de natureza lírica com contaminação épica, com forte dimensão simbólica. A obra encontra-se dividida em três partes: Brasão, Mar Português e O Encoberto.
A primeira parte simboliza o nascimento de Portugal, abordando as contribuições dos vários heróis para a fundação da nação. Dentro da secção “Os Castelos”, Ulisses terá erguido a cidade de Lisboa e enriquecido a cultura e o imaginário dos portugueses com a cultura grega. Apesar de este mito não ter uma natureza factual, valoriza a realidade e enche de sentido a essência dos portugueses. 
Para Pessoa somos essencialmente valores! 
Um outro herói da obra, D. Dinis, planta pinhais intuindo que, futuramente, eles serão utilizados na construção de naus. Contribui, assim, para os Descobrimentos e a consequente glória do povo português. D. Sebastião, glorificado na secção “As Quinas”, assume uma dimensão espiritual, pondo em relevo o sacrifício que imortaliza e glorifica o ser humano. A sua loucura trouxe-lhe grandeza e distinguiu-o do vulgo, transformando-o num símbolo de ousadia e conferindo-lhe uma dimensão mítica, que vai além da sua dimensão histórica: “Ficou meu ser que houve, não o que há” in “D. Sebastião, Rei de Portugal”. 
A segunda parte simboliza a vida, isto é, a expansão e afirmação do Império. O Infante é considerado o impulsionador dos Descobrimentos, o eleito para principiar a descoberta dos mares e a unificação dos continentes, cumprindo, deste modo, a predestinação divina de os portugueses construírem um Império. “O Mostrengo” simboliza os perigos com que o herói se confronta diante do desconhecido. Esse herói plural é designado o “homem do leme”, uma sinédoque referente a uma coletividade que vence os seus medos e triunfa sobre os limites da humanidade, conferindo um tom épico ao poema. Do mesmo modo, o poema “Mar Português” defende a importância do sofrimento na superação dos limites. No final desta parte, é feita uma “prece” que mostra um desejo de superação da decadência visível no presente. Permanece a esperança de uma futura renovação divina, não passando esse sonho, no entanto, de uma utopia, que nem por isso deixará de ser o primeiro e último propósito do herói da Mensagem.
A última parte simboliza a decadência de Portugal, seguida pela manifestação de um sonho de renovação. Pessoa defende o advento do «Quinto Império», um império universal e espiritual que substituirá os quatro antecessores. Para tal se realizar, é necessário que o ser humano se desprenda da felicidade supérflua, do conforto e da passividade, e que enfrente a insatisfação inerente à natureza humana na forma de ambição, da «loucura» ficando disposto a superar as dificuldades e a distinguir-se dos demais, distanciando-se da mediocridade. O terceiro “Aviso”, cuja ausência de título configura uma co-referência com o autor do «livro», faz transparecer o sofrimento de Pessoa resultante da decadência da nação, que se refugia num futuro redentor. As diversas interrogações evidenciam a sua ansiedade, uma expectativa pela vinda de uma figura mítica que salvará a Pátria através da renovação espiritual. O poema final, “Nevoeiro”, apresenta críticas à indefinição, nomeadamente a de valores, transmitindo ideias de morte e de fragmentação que assombram a Pátria: “Ninguém sabe que coisa quer / (…) Tudo é incerto e derradeiro. / Tudo é disperso, nada é inteiro. / Ó Portugal, hoje és nevoeiro…” in “Nevoeiro”. Pessoa finaliza a obra com o apelo “É a Hora!”, uma exclamação que impele os seus conterrâneos coevos a tomarem a iniciativa com o objetivo de inverter a situação de decadência em que se encontram e restaurar a glória que o povo português experimentou em tempos.
Na Mensagem, os heróis ultrapassam, assim, a realidade histórica em que se inscrevem e adquirem o estatuto de mito, servindo de modelos de superação humana. Pessoa faz renascer o mito do sebastianismo com a intenção de exortar outros a tomarem o sonho que outrora moveu D. Sebastião, ansiando a renovação de Portugal e a construção de um novo império, de caráter universal e espiritual.

Autora:  Oleksandra Sokolan, 12º B
Prof. João Morais