O BlogBESSS...

Bem-Vindos!


Blog ou Blogue, na grafia portuguesa, é uma abreviatura de Weblog. Estes sítios permitem a publicação e a constante atualização de artigos ou "posts", que são, em geral, organizados através de etiquetas (temas) e de forma cronológica inversa.


A possibilidade de os leitores e autores deixarem comentários, de forma sequencial e interativa, corresponde à natureza essencial dos blogues
e por isso, o elemento central do presente projeto da Biblioteca Escolar (BE).


O BlogBESSS é um espaço virtual de informação e de partilha de leituras e ideias. Aberto à comunidade educativa da ESSS e a todos os que pretendam contribuir para a concretização dos objetivos da BE:

1. Promover a leitura e as literacias;

2. Apoiar o desenvolvimento curricular;

3. Valorizar a BE como elemento integrante do Projeto Educativo;

4. Abrir a BE à comunidade local.


De acordo com a sua natureza e integrando os referidos objetivos, o BlogBESSS corresponde a uma proposta de aprendizagem colaborativa e de construção coletiva do Conhecimento, incentivando ao mesmo tempo a utilização/fruição dos recursos existentes na BE.


Colabore nos Projetos "Autor do Mês..." (Para saber como colaborar deverá ler a mensagem de 20 de fevereiro de 2009) e "Leituras Soltas..."
(Leia a mensagem de 10 de abril de 2009).


Não se esqueça, ainda, de ler as regras de utilização do
BlogBESSS e as indicações de "Como Comentar.." nas mensagens de 10 de fevereiro de 2009.


A Biblioteca Escolar da ESSS

PS - Uma leitura interessante sobre a convergência entre as Bibliotecas e os Blogues é o texto de Moreno Albuquerque de Barros - Blogs e Bibliotecários.


terça-feira, 30 de abril de 2013

Aparição: um processo de interrogação e de iluminação


Trabalho realizado pela aluna Inês Chim, 11º I, Abril 2013
Prof. João Morais


          «[…] que maldição pesa sobre a assunção do nosso destino?, sobre o confronto connosco mesmos?, sobre a evidência da nossa condição?.»

Vergílio Ferreira, Aparição, 16ª ed., Livraria Bertrand, 1983.

      
    Na Aparição, de Vergílio Ferreira, é explorada a vertente da descoberta e da revelação humana.
   Esta obra inscreve-se na corrente filosófica do Existencialismo, sendo esta corrente caracterizada pelo seu humanismo que propõe a construção do Homem a partir de si mesmo, vertente explorada ao longo de todo esta obra. 
   A personagem principal propõe a si própria inúmeros desafios como descobrir a existência do eu, a explicação da inverosimilhança da morte na vida, a crença no homem enquanto ser comunicante e a substituição de Deus por si próprio.
    A personagem narrador, Alberto Soares, toma a morte do pai como ponto de partida para a exploração do seu caminho da tentativa de descobrir a “luz”. Após a perda do seu progenitor, Alberto apercebe-se que tem um problema: não consegue integrar a morte na vida (“[…] Portanto, eu tinha um problema: justificar a vida em face da inverosimilhança da morte […]” – Cap. IV, Aparição).
     Alberto desafia Deus, abandonando-o e substituindo-o, procurando alcançar a sabedoria total sobre si e sobre os outros. Chega mesmo a tomar-se um messias, tentando espalhar a sua palavra enquanto ser iluminador do mundo e criar súbditos.
   Confrontando-se com outras personagens e outros pontos de vista, a personagem interroga-se (“[…] E de que serve esse «eu» e a sua descoberta, se o condenamos à prisão? […] Mas quem teve a dádiva da evidência de si, como condenar-se a si ao silêncio prisional? […]” – Cap. VII, Aparição) e reflete constantemente. Esse confronto é crucial para o debate de ideias e para a perceção dos caminhos diferentes que as outras personagens tomam.
    Bastante percetíveis, também, são as inquietações que a personagem provoca em outras personagens como Ana, Sofia e Carolino (tendo cada um deles interpretado a linguagem do narrador de forma diferente e tendo, assim, um desfecho igualmente diferente), o que não é aceite na axiologia comum. Por isso, Alberto é visto como um “criminoso”.
      Sofia desafia tudo e todos, as leis da vida e da morte. É uma personagem possuída de grande loucura, indiferente às aflições da família e tenta suicidar-se inúmeras vezes. Desde o início que esta personagem conhece a grande notícia de que o narrador diz ser portador e, de certa forma, assemelha-se a este devido às suas próprias inquietações às quais consegue dar voz.
      Carolino é apresentado como um louco que decide substituir-se aos deuses e agir em seu lugar, deturpando as palavras e a mensagem de Alberto. Ao fazê-lo, Carolino, ao contrário de Alberto, assume-se como deus que tem o poder de destruir e de matar, chegando a tentar matar quem o “criou” (“[…] Sou livre, sou grande, tenho em mim um poder imenso. Imenso como Deus. Ele construía. Eu posso destruir […]” – Cap. XIX, Aparição).
Ana, por outro ladro, desde o seu primeiro contacto com a personagem narrador, percebe que este tem uma série de inquietações e tenta resistir-lhe. Mas Ana e Alberto têm algo em comum: a partilha duma linguagem. Ana é influenciada pela morte da irmã, Cristina (Cristo), e pela linguagem do narrador (“[…] Sei-o, porque foi a sua linguagem que eu achei para me exprimir a mim mesma […]” – Cap. XX, Aparição), não pela sua ideologia, Ana volta a acreditar na religião e atinge um estado de tranquilidade.
Devido às suas inquietações e densidade psicológica, todas estas personagens são modeladas.
Chico, uma outra personagem que não se insere na axiologia comum, vai ser oponente da personagem principal e do que esta pretende transmitir. Apesar de ambas as personagens não se inscreverem na axiologia comum, Alberto assume-se como humanista e Chico, como materialista. Defende ideias completamente opostas às de Alberto, estando sempre contra ele e culpando-o de tudo o que aconteceu, principalmente com Ana (“[…] Mas ela [Ana] repete-o a você, ela diz exatamente as suas palavras […] Falo da sua mixórdia irracionalista, dos seus sofismas, da suas perversão […]” – Cap. XXI, Aparição ).
    Chico é uma personagem plana porque, pode concluir-se, não tem densidade psicológica e mantém-se fiel à sua ideologia, não tendo qualquer tipo de inquietações ou dilemas interiores.
É percetível a inquietação constante em que a personagem principal vive, questionando-se por tudo e mais alguma coisa, com o objetivo de encontrar a sua aparição, de viver em tranquilidade. E a maior parte deste caminho é possível de ser realizado devido à memória – a memória ocupa uma função fundamental para o decorrer da própria história e das interrogações da personagem: dois dos episódios representativos são o do Mondego e o da morte do Bailote.
No fim do seu longo percurso, a personagem acaba por atingir uma certa tranquilidade mas, mesmo assim, afirma que o seu triunfo é “apaziguador” …
     Na obra Aparição é, de facto, possível verificar a exploração da vertente da descoberta e da revelação humana através das interrogações constantes, da reflexão, das inquietações (sentidas e provocadas) pela personagem Alberto. No entanto, pode, também, verificar-se que os seus objetivos não são totalmente cumpridos porque, após todo o caminho, a personagem percebe que nem todas as perguntas têm resposta e que a aparição não tem fim, há sempre continuidade – é um processo inconcluso.

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