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3. Valorizar a BE como elemento integrante do Projeto Educativo;

4. Abrir a BE à comunidade local.


De acordo com a sua natureza e integrando os referidos objetivos, o BlogBESSS corresponde a uma proposta de aprendizagem colaborativa e de construção coletiva do Conhecimento, incentivando ao mesmo tempo a utilização/fruição dos recursos existentes na BE.


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PS - Uma leitura interessante sobre a convergência entre as Bibliotecas e os Blogues é o texto de Moreno Albuquerque de Barros - Blogs e Bibliotecários.


domingo, 30 de novembro de 2014

O Sermão de Santo António: pregar aos peixes para moralizar os homens

Trabalho realizado pela aluna Maria Miguel Cunha, nº 20, do 11º G
Prof. João Morais

     No Sermão de S. António, o Padre António Vieira pretende moralizar os Homens, pregando aos peixes.
     Antes de mais, deve notar-se que todo o sermão é uma alegoria, pois em todo ele os peixes são uma metáfora de Homens. Isto acontece porque António Vieira, à imitação de Santo António, percebendo que os Homens não ouviam o que ele tinha para lhes dizer, mudou de auditório e pregou voltado para o mar: “ […] quero hoje, à imitação de Santo António, voltar-me da terra ao mar, e já que os homens se não aproveitam, pregar aos peixes […]”. A situação de sermão alegórico apresentada foi possível devido à grande engenhosidade do discurso de Vieira que, ao longo do texto, utilizou variadíssimos recursos para este efeito, como são exemplo as inúmeras analogias.
     Com o conceito predicável “Vos estis sal terrae” que começa por expor, Vieira pretende passar a mensagem de que os Homens são o sal da terra, ou seja, os pregadores que, a partir da sua boa doutrina, purificarão os seus ouvintes. No entanto, os homens não cumprem o seu dever, pois a raça humana encontra-se corrompida e em pecado. É a partir deste conceito que Vieira irá desenvolver o resto do sermão, louvando as virtudes dos peixes, que contrastam com os defeitos humanos, e censurando os vícios e comportamentos dos homens através do exemplo dos peixes. 
     Vieira começa por louvar os peixes, no geral, pelas suas qualidades divinas: “[…] aquela obediência, […] e aquela ordem, quietação e atenção com que ouvistes a palavra de Deus da boca de seu servo António.”; louva-os também “[…] por este respeito e devoção que tivestes aos pregadores da palavra de Deus […]”. Depois louva-os pelas suas qualidades naturais: os peixes não se domesticam e vivem em retiro, longe do pecado dos homens. De seguida, Vieira aponta alguns casos particulares de peixes com qualidades exemplares, como o são o peixe de Tobias, a Rémora, o Torpedo, e o Quatro-olhos, comparando-os com as qualidades de Santo António. O peixe de Tobias tem propriedades curativas e purificadoras; a Rémora tem o mesmo tamanho pequeno e a mesma força que a língua de Santo António; o Torpedo faz tremer os pescadores como Santo António faz “tremer” as consciências; e o Quatro-olhos olha simultaneamente para cima e para baixo, tal como Santo António nos faz olhar para o bem e para o mal.
     De seguida, são tratadas as repreensões gerais dos peixes, que Vieira também equipara com as dos Homens. Primeiramente, Vieira aponta que os peixes se comem uns aos outros, tal como os homens se destroem mútua e constantemente para atingirem os seus objetivos. Para tornar mais explícita esta analogia dos peixes com os homens, Vieira afirma que os peixes são “[…] todos criados no mesmo elemento, todos cidadãos da mesma pátria, e todos finalmente irmãos […]”, ou seja, utiliza expressões que remetem para a organização social da vida humana, e recorre a exemplos de instituições criadas pelos humanos, como a justiça, a saúde, e a família. Na segunda repreensão, Vieira critica a ignorância e a cegueira dos Homens, de novo através de analogias com os peixes, que, tal como estes, facilmente são pescados: “[…] quanto me lastima em muitos de vós é aquela tão notável ignorância e cegueira que em todas as viagens experimentam os que navegam para estas partes. […] Mas nem por isso vos negarei que também cá se deixam pescar os homens pelo mesmo engano, menos honrada e mais ignoradamente.”. Tal como os peixes se deixam enganar pelos engenhos dos pescadores, os homens deixam-se muito facilmente enganar por aqueles que se tomam como seus superiores em inúmeras situações da sua vivência, como na colonização, nos Descobrimentos, nas ordens religiosas, na organização social e no comércio: “Vem um mestre de navio de Portugal com quatro varreduras das lojas, com quatro panos e quatro sedas, que já se lhes passou a era e não têm gasto; e que faz? Isca com aqueles trapos aos moradores da nossa terra: dá-lhes uma sacadela e dá-lhes outra, com que cada vez lhes sobe mais o preço;”. 
     Vieira passa, assim, para as repreensões dos vícios de quatro peixes em particular, com o intuito de os evidenciar nos homens. Começa por repreender os roncadores, que, sendo tão pequenos, são arrogantes (“É possível que sendo vós uns peixinhos tão pequenos, haveis de ser as roncas do mar?!”). Repreende igualmente as rémoras pelo seu oportunismo e ronha (“ […] sendo pequenos, não só se chegam aos outros maiores, mas de tal sorte se lhes pegam aos costados, que jamais os desferram.”); os voadores pela sua ambição e presunção (“Não contente com ser peixe, quiseste ser ave […]”); e o polvo por ser um hipócrita e traidor, os piores defeitos de todos “[…] monstro tão dissimulado, tão fingido, tão astuto, tão enganoso e tão conhecidamente traidor!”. Desta forma, os vícios destes quatro peixes funcionam como metáforas dos vícios dos colonos de São Luís do Maranhão e da condição humana em geral.
     Finalmente, o orador utiliza a peroração para recapitular os aspetos do seu discurso e reforçar a igualdade entre os defeitos dos peixes e dos homens, através de um último aspeto. Vieira equipara de novo as duas espécies, lembrando que os peixes não podiam ser sacrificados por Deus, pois morrem fora de água, e que, pelo contrário, os homens, podendo sacrificar-se por Deus, também chegam em pecado e sem arrependimento ao altar: “[…] quantas almas chegam àquele altar mortas, porque chegam e não têm horror de chegar, estando em pecado mortal!”. Vieira acaba o seu discurso de forma humilde mas também tenebrosa, pois acrescenta que os seres humanos falham perante Deus porque a sua inteligência destrói a sua inocência e pureza, enquanto os peixes as conservam, pois são seres irracionais, não dotados de livre arbítrio, o que os conduz por caminhos mais próximos de Deus. Com isto, apela aos seus ouvintes para que respeitem, venerem e louvem a Deus. Ora, como os peixes não têm, realmente, características e capacidades humanas, infere-se que Vieira se referia aos humanos também nesta parte do seu discurso.
     As virtudes dos peixes são, então, a antítese dos defeitos humanos, e transparece a superioridade dos peixes relativamente à natureza humana, incluindo a do próprio Vieira; e os seus vícios são uma metáfora direta dos vícios dos homens, que são evidenciados por analogia.
    Para finalizar, podemos concluir que, através de uma multiplicidade de estratégias para dirigir as suas críticas aos homens, António Vieira consegue, de uma forma espantosa, repreender e levar os homens à mudança dos seus comportamentos e vícios, através de uma pregação aos peixes.

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