O BlogBESSS...

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Blog ou Blogue, na grafia portuguesa, é uma abreviatura de Weblog. Estes sítios permitem a publicação e a constante atualização de artigos ou "posts", que são, em geral, organizados através de etiquetas (temas) e de forma cronológica inversa.


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e por isso, o elemento central do presente projeto da Biblioteca Escolar (BE).


O BlogBESSS é um espaço virtual de informação e de partilha de leituras e ideias. Aberto à comunidade educativa da ESSS e a todos os que pretendam contribuir para a concretização dos objetivos da BE:

1. Promover a leitura e as literacias;

2. Apoiar o desenvolvimento curricular;

3. Valorizar a BE como elemento integrante do Projeto Educativo;

4. Abrir a BE à comunidade local.


De acordo com a sua natureza e integrando os referidos objetivos, o BlogBESSS corresponde a uma proposta de aprendizagem colaborativa e de construção coletiva do Conhecimento, incentivando ao mesmo tempo a utilização/fruição dos recursos existentes na BE.


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PS - Uma leitura interessante sobre a convergência entre as Bibliotecas e os Blogues é o texto de Moreno Albuquerque de Barros - Blogs e Bibliotecários.


sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Proposta de Correção do Teste de Português - 11º I

Trabalho realizado pelos alunos Astha Corrêa, Maria Kopke e e Inês Chim, 2012/13
Prof. João Morais

I (Astha Corrêa)

1. A passagem acima transcrita localiza-se, quanto à estrutura externa, no Cap. IV, que é onde, ao nível da estrutura interna, o orador critica os peixes por se comerem uns aos outros e os aproxima dos homens pelos defeitos que estes também têm – a corrupção, a exploração, o roubo (“comem-no os oficiais dos órfãos […]; come-o o Médico […]; come-o o sangrador […]; come-o a mesma mulher […].”). Ainda quanto à estrutura interna, este excerto pertence, assim, à Confirmação, parte do Sermão onde o Padre António Vieira repreende os vícios gerais dos peixes (“[…] os peixes que se comem uns aos outros.”).

2. Nesta passagem, o efeito expressivo da aliteração das oclusivas ([p] [d] [k]) deve-se ao facto de as mesmas consoantes sugerirem a ideia de destruição, que se aplica à ação da condição humana na «terra» (“o pobre defunto”), sinédoque de vermes que decompõem os cadáveres humanos, e na «terra», enquanto sinédoque de homens que roubam e exploram o seu semelhante.

3. O Padre António Vieira, neste excerto, utiliza dois tipos de argumentos: argumento de autoridade, ao recorrer à dignidade inquestionável e às palavras de Santo Agostinho no Evangelho (“Olhai como estranha isto Santo Agostinho: Homines pravis, preversisque cupiditatibus facit sunt veluti piscis invicem se devorantes”); e o argumento empírico, ao repreender o vício dos peixes com base no conhecimento que resulta da observação do que ocorre na natureza – o de comerem-se uns aos outros –, associando-o ao traço distintivo do homem: a antropofagia social (“[…] vedes aquele concorrer às praças e cruzar as ruas; vedes aquele subir e descer as calçadas [...]? Pois aquilo é andarem buscando os homens como hão de comer, e como se hão de comer”).

4. A analogia que se realiza no texto assenta no signo “terra” na sua plurissignificação: em sentido literal (“ainda o pobre defunto o não comeu a terra”) e “terra” em sentido figurado (“e já o tem comido toda a terra”). “Terra”, em sentido literal, refere-se ao solo, à terra em concreto que, no texto, é sinédoque de bichos, vermes, e significa o lugar onde os corpos mortos vão entrar em decomposição. “Terra”, em sentido figurado, sinédoque de homens, refere-se ao lugar onde ocorre o roubo, a exploração, que os homens praticam na cidade (“Comem-no os herdeiros, comem-no os testamenteiros, comem-no os legatários, comem-no os acredores”).

Trata-se, assim, duma analogia porque, a partir do significante duma palavra, associam-se nexos diferentes com ela relacionados. Da terra enquanto lugar de morte para homens e de vida de vermes passamos para terra enquanto lugar de vida para homens. Tudo é a terra e tudo é a destruição na condição humana: na vida como na morte.

II (Maria Kopke)

1. O Zé exortou os presentes para se implicarem mais nos problemas sociais.

O Zé exortou os presentes - Oração subordinante: é a parte do período que é estruturante, pois o seu GV irá selecionar um complemento oblíquo, que é o resto do período.

para se implicarem mais nos problemas sociais - Oração subordinada completiva (função de complemento oblíquo) Esta oração (=constituinte) tem se ser realizada na frase (= elemento essencial da frase), sob pena de o período perder a gramaticalidade:

* O Zé exortou os presentes

2. Evocaste problemas que teremos de resolver.

Evocaste problemas- Oração subordinante: é a parte do período que é estruturante; pode ocorrer sem o resto do período, ao contrário da 2ª, que é estruturada (= subordinada) a partir do GN problemas da principal.

Que teremos de resolver- Oração subordinada adjetiva relativa restritiva.

É adjetiva porque comuta com um adjetivo: Evocaste problemas importantes.

É relativa porque é introduzida por um pronome relativo: QUE. Esta palavra substitui o GN que introduz a 2ª oração, estabelecendo uma relação com a anterior:

Transformação:

1ª oração: Evocaste problemas.
2ª oração: teremos de resolver [problemas].

É ainda restritiva porque se encontra a restringir o domínio de problemas.

3. Quem mais adivinha mais erra

Quem mais adivinha - Oração subordinada substantiva relativa sem antecedente (exerce a função de sujeito porque comuta com um GN, que transmite a flexão de pessoa (3ª) e nº (sing.) ao verbo, e, ainda, porque comuta com uma forma de nominativo (= suj.) do pronome pessoal: ELE/ELA)

É substantiva porque comuta com um GN: O Zé [erra mais].

É relativa sem antecedente já que fica implícito um GN substituído pelo pronome relativo QUEM.

Mais erra-Oração subordinante: é a parte do período que é estruturante; pode ocorrer sem o resto do período.

4. O Zé partiu para Roma; A Ana, para Barcelona

O Zé partiu para Roma; - Oração coordenada copulativa assindética.

A Ana, para Barcelona.- Oração coordenada copulativa assindética.

Ambas têm independência gramatical, com valor de adição, e são justapostas:

O Zé partiu para Roma e a Ana partiu para Barcelona.

Ou

Não só o Zé partiu para Roma como também a Ana [partiu] para Barcelona.

5. A tarefa de olhar pelas crianças é gratificante

A tarefa é gratificante - Oração subordinante: é a parte do período que é estruturante; pode ocorrer sem o resto do período.

De olhar pelas crianças - Oração subordinada completiva.

É completiva porque tem a função de complemento nominal (do GN A tarefa).


III (Inês Chim)


«Se Vieira procura, muitas vezes, conduzir a opinião pública, transformando o púlpito em tribuna política, o facto nada tem de excecional: no século XVII, o púlpito desempenhava também funções que hoje cabem aos jornais, à televisão, enquanto instrumentos nas mãos dos governantes.»
                                Jacinto do Prado Coelho, «Oratória», in Dicionário de Literatura, Liv. Figueirinhas

No Sermão de Santo António aos Peixes, o orador privilegia, de facto, a vertente de combate de ideias, que se inscrevem numa grande variedade de domínios, que acabarão por refletir o pensamento de grande homem do mundo que foi o Padre António Vieira.

No capítulo I, o exórdio, o Padre António Vieira começa por utilizar um conceito predicável (“Vos estis sal terrae”: “Vós sois o sal da terra”) que, alicerçado na autoridade de S. Mateus, nos permitirá concluir que Vieira defende que os homens não querem receber a verdadeira doutrina (“ não se deixam salgar”). Para reforçar esta atitude dos homens e os seus defeitos, Vieira recorre à figura da antítese entre peixes e homens ao longo dos capítulos II e III. Deve fazer-se notar, ainda, a referência ao Santo António, que, em muitos casos por analogia com os peixes, é o exemplo a ser seguido pelo auditório.

No capítulo II, inicia-se a construção de uma estrutura alegórica e a Divisão do sermão: primeiro, serão pregados os louvores dos peixes e, seguidamente, os seus defeitos. Ainda neste capítulo, dá-se a Confirmação, expondo-se as qualidades gerais dos peixes. Temos então as divinas – obediência, ordem, quietação e atenção (“[…] aquela obediência […] e aquela ordem, quietação e atenção com que ouvistes a palavra de Deus […]”) – e as naturais – não se deixam domesticar pelo homem, ao contrário de outros animais (“[…] Falando dos peixes, Aristóteles diz que só eles entre todos os animais se não domam nem domesticam […]”). Ocorre, então, a antítese entre peixes e homens, em que os peixes assumem um valor positivo.

No terceiro capítulo, o Padre António Vieira evoca as qualidades particulares de quatro peixes: o Peixe de Tobias, cujo fel cura a cegueira do pai e cujo coração afasta o demónio da casa (sentido literal) – também Santo António, com o fel, cura a cegueira dos homens e utiliza o coração para afugentar o mal humano (sentido figurado) –; a Rémora, que se pega ao leme da nau e a amarra (sentido literal) – também a língua de Santo António domou a fúria das paixões humanas: Soberba, Vingança, Cobiça e Sensualidade (sentido figurado) –; o Torpedo, que faz tremer o braço do pescador, impedindo-o de pescar (sentido literal) – Santo António fez tremer vinte e dois pescadores que ouviram a suas palavras e se converteram (sentido figurado); e o Quatro-olhos, que se defende dos peixes e das aves (sentido literal). Este é, para além disso, o peixe que ensinou o pregador a olhar para o Céu (para cima) e para o Inferno (para baixo).

No capítulo IV, é iniciada a repreensão aos peixes com os seus defeitos gerais: comem-se uns aos outros, mesmo sendo do mesmo elemento, da mesma pátria, da mesma cidade (“[…]da mesma natureza, que, sendo todos criados no mesmo elemento, todos cidadãos da mesma pátria, e todos finalmente irmãos, vivais de vos comer! […]”); e são ignorantes e cegos ao ponto de se deixarem explorar. Neste capítulo os peixes assumem o valor negativo antes pertencente apenas aos homens (“[…] Mas para que conheçais a que chega a vossa crueldade, considerai, peixes, que também os homens se comem vivos assim como vós […]”), pelo que o recurso estruturante é a analogia e já não a antítese.

De seguida, inicia-se a repreensão aos peixes relacionada com os seus defeitos particulares e Vieira refere-se a outros quatro peixes: os roncadores, que têm como defeitos a arrogância e o orgulho (“[…] É possível que sendo vós uns peixinhos tão pequenos, haveis de ser as roncas do mar?![…}”) , traços que se reatualizam, ao nível do homem, com Pedro, Golias, Caifás e Pilatos; os pegadores, devido ao facto de serem parasitas (“[…] sendo pequenos, não só se chegam a outros maiores, mas tal sorte se lhes pagam aos costados, que jamais os desferram […]”), características que se reatualizam em toda a família da corte de Herodes e em Adão e Eva; os voadores, que são presunçosos, ambiciosos e caprichosos (“[…] matai-vos a vossa presunção e o vosso capricho […] Grande ambição é que […] queira outro elemento mais largo […]”), aspetos que se reatualizam em Simão mago; e o polvo devido à sua hipocrisia e traição (“ […] o dito Polvo é o maior traidor do mar […]”), ultrapassando Judas enquanto símbolo.

Por fim, no capítulo VI, dá-se a peroração em que Vieira louva Deus como reforço da crítica e afirma que o sermão não irá acabar em Graça e Glória porque o auditório – homens ao nível da comunicação, entenda-se – não é detentor de tais qualidades.

Em síntese, podemos concluir que o Sermão de Santo António aos Peixes tem, de facto, uma vertente de combate de ideias pela crítica que é feita aos homens e aos seus comportamentos. Para a efetivação dessa mesma crítica, o orador recorre à alegoria e a analogias ao longo de todo o sermão. Os signos que se produzem no texto configuram-se com um significado coerente ao nível da comunicação, que é dirigida aos interlocutores habilitados a descodificar a denúncia e os objetivos edificantes que serviram de exemplo para os homens, que “se não deixam salgar”. O Padre António Vieira tem, então, como fim da pregação do sermão a mudança de comportamentos, podendo, de facto, afirmar-se que o seu discurso, ultrapassando a simples evangelização no sentido mais religioso, privilegia a vertente de combate de ideias.

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