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Blog ou Blogue, na grafia portuguesa, é uma abreviatura de Weblog. Estes sítios permitem a publicação e a constante atualização de artigos ou "posts", que são, em geral, organizados através de etiquetas (temas) e de forma cronológica inversa.


A possibilidade de os leitores e autores deixarem comentários, de forma sequencial e interativa, corresponde à natureza essencial dos blogues
e por isso, o elemento central do presente projeto da Biblioteca Escolar (BE).


O BlogBESSS é um espaço virtual de informação e de partilha de leituras e ideias. Aberto à comunidade educativa da ESSS e a todos os que pretendam contribuir para a concretização dos objetivos da BE:

1. Promover a leitura e as literacias;

2. Apoiar o desenvolvimento curricular;

3. Valorizar a BE como elemento integrante do Projeto Educativo;

4. Abrir a BE à comunidade local.


De acordo com a sua natureza e integrando os referidos objetivos, o BlogBESSS corresponde a uma proposta de aprendizagem colaborativa e de construção coletiva do Conhecimento, incentivando ao mesmo tempo a utilização/fruição dos recursos existentes na BE.


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(Leia a mensagem de 10 de abril de 2009).


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PS - Uma leitura interessante sobre a convergência entre as Bibliotecas e os Blogues é o texto de Moreno Albuquerque de Barros - Blogs e Bibliotecários.


quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Ricardo Reis: o poeta clássico


Correção do grupo III do teste do 12º B


Ricardo Reis: o poeta clássico 

Ricardo Reis é um dos três heterónimos de Fernando Pessoa que receberam especial destaque na sua carta a Adolfo Casais Monteiro a 13 de janeiro de 1935. Idealizado como homem moreno, baixo e seco de carnes, Ricardo Reis é médico e, apesar de ter nascido em 1887 no Porto, está desde 1919 no Brasil pelo facto de, devido aos seus ideais monárquicos, se ter expatriado espontaneamente. De estilo predominantemente neoclássico, a sua escrita assenta na herança greco-romana e é influenciada por Horácio, poeta latino que lhe serve de modelo. Reis assume-se como um latinista e semi-helenista, que é influenciado pelas teorias filosóficas epicurista e estoico, aderindo afincadamente ao culto da tranquilidade. 

Inspirado em Horácio, poeta romano do século I a. C., Ricardo Reis, como classicista genuíno, evidencia especial preferência pela ode. Sendo um género literário de índole greco-romana, de estilo particularmente elevado e solene, que pretende glorificar alguém ou algo, a ode é utilizada por Reis com o intuito de exaltar um programa de vida, o programa por ele defendido, que assenta na aceitação calma e tranquila da vida, sem que haja qualquer tipo de perturbação. 

Por ter estudado num colégio jesuíta antes de se formar em Medicina, Reis domina fortemente a cultura latina e aplica-a à grande maioria das suas obras. Assim, com uma linguagem culta, rigorosa e de saber erudito, e num estilo rebuscado e sentencioso, constrói persistentemente frases imperativas, forma de convidar a sua companheira intelectual a aderir ao seu programa de vida, e recorre a latinismos tanto a nível lexical (“E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro” – v. 29 in “Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio”) como a nível sintático, visível através do uso da anástrofe (“ Solene passa sobre a fértil terra” – v. 1; “Tal me alta na alma a lenta ideia voa” – v. 5 in “Solene passa sobre a fértil terra”). 

Na escrita de Reis é recorrente a alusão a elementos mitológicos que evidenciam a consciencialização de que o poeta tem da morte. Desta forma, a ideia da aceitação fatalista do destino e a referência aos deuses da antiguidade greco-romana constituem alguns dos aspetos por ele mais abordados. A convicção da efemeridade da vida é algo que assombra o sujeito poético. Defende, assim, que todos, até mesmo os deuses (“Dizer-te. A resposta/ Está além dos Deuses” – vv. 20 e 21 in “Segue o teu destino”), estão sujeitos a uma força maior, o destino, que surge como entidade deletéria que impede a vivência tranquila muito por ele desejada (“Sofro, Lídia, do medo do destino” – v.1 in “Sofro, Lídia, do medo do destino”). 

À semelhança dos poemas horacianos, também na escrita de Ricardo Reis conseguimos testemunhar a predominância de ideais epicuristas. A atitude de adesão ao mundo, a de viver conforme a natureza e a da racionalização das emoções são princípios em que assenta esta teoria filosófica, que tem como principal objetivo libertar o Homem do medo da morte. É então a consciencialização da efemeridade da vida que justifica a vivência dos prazeres brandos por parte do sujeito poético, que lhe proporciona uma experiência de vida tranquila baseada na ideia de gozar o presente ou carpe diem (“[...] Colhe/ O dia, porque és ele.” – vv.7 e 8 in “Uns, com os olhos postos no passado”) . Com o intuito de alcançar tal idealização, leva mesmo o conceito de paganismo ao extremo e, desprezando por completo as construções sociais, chega a tornar-se um ser associal (“E antes magnólias amo/ Que a glória e a virtude” – vv. 2 e 3 in “Prefiro rosas, meu amor, à pátria”). No entanto, apresenta-se como “epicurista triste”: tais ideais não passam de um meio para se autoconvencer de algo em que não acredita efetivamente. Vive por isso aterrorizado com o processo de envelhecimento, com a morte e com a tirania do fatum a que todos estão vulneráveis (“[...] indo/ Para a velhice como um dia entra/ No anoitecer” – vv. 10-12 in “Sofro, Lídia, do medo do destino”). 

Na grande maioria dos seus poemas é também visível a frequente recorrência ao tema da renúncia e do desapego como forma de promover o culto da ataraxia, a possibilidade de viver sem qualquer tipo de perturbação que possa culminar em sofrimento, para não comprometer uma vivência tranquila e feliz (“Segue o teu destino,/ Rega as tuas plantas,/ Rega as tuas rosas./ O resto é a sombra/ De árvores alheias.” vv. 1-5 in “Segue o teu destino”). Como forma de travar a sua vulnerabilidade face ao emprego das emoções, principais agentes causadores de inquietação, o sujeito poético refugia-se na razão, sendo esta o elemento essencial para a apreensão do real e para a aceitação serena do destino sem qualquer preconceito nem medo do que a ele está iminente (“Mas serenamente/ Imita o Olimpo/ No teu coração.” – vv. 21-23 in “Segue o teu destino”). 

Em suma, a poética de Ricardo Reis é amplamente influenciada pela cultura clássica de herança greco-romana. A preferência pela ode como forma de exaltar um programa de vida que se baseia na associação das duas teorias filosóficas de origem helenista, o epicurismo e o estoicismo, a prioridade conferida à vivência dos prazeres brandos da vida ou aurea mediocritas como forma a evitar qualquer tipo de exaltação que possa causar sofrimento, o afastamento das idealizações sociais por parte do sujeito poético e a renuncia à mudança da ordem do mundo são tudo características da escrita de Reis que corroboram o ideal clássico que a ele é inerente.

   Autora: Teresa Abrantes, 12ºA
    Prof. João Morais

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