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e por isso, o elemento central do presente projeto da Biblioteca Escolar (BE).


O BlogBESSS é um espaço virtual de informação e de partilha de leituras e ideias. Aberto à comunidade educativa da ESSS e a todos os que pretendam contribuir para a concretização dos objetivos da BE:

1. Promover a leitura e as literacias;

2. Apoiar o desenvolvimento curricular;

3. Valorizar a BE como elemento integrante do Projeto Educativo;

4. Abrir a BE à comunidade local.


De acordo com a sua natureza e integrando os referidos objetivos, o BlogBESSS corresponde a uma proposta de aprendizagem colaborativa e de construção coletiva do Conhecimento, incentivando ao mesmo tempo a utilização/fruição dos recursos existentes na BE.


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PS - Uma leitura interessante sobre a convergência entre as Bibliotecas e os Blogues é o texto de Moreno Albuquerque de Barros - Blogs e Bibliotecários.


quinta-feira, 17 de março de 2011

O Herói da Mensagem e o herói d’Os Lusíadas

Trabalho realizado por Rita André12º B, 2010/11 
Prof. João Morais


Na obra do poeta Luís de Camões, o Herói apresentado na Proposição não é uma personagem mas sim um colectivo, ou seja, é constituído pelos Portugueses Ilustres, a saber, os Navegadores, os Guerreiros, os Reis, entre outros que se imortalizaram com actos heróicos: “E aqueles que por obras valerosas / Se vão da lei da Morte libertando” (Canto I, est.2).
O Herói da obra de Fernando Pessoa é uma personagem (passe a sinédoque) criada pelo poeta, a entidade “nós”, referindo-se a si próprio e aos leitores que se identificam com a sua concepção de um Portugal Espiritual, no qual é captada a essência do país e a sua missão por cumprir. Todas as personagens históricas mencionadas pelo poeta, como D. Dinis, D. Afonso Henriques e D. Sebastião, têm um significado simbólico e emancipam-se da sua configuração histórica para serem transformados em mitos. Por exemplo, D. Sebastião, que morreu na Batalha de Alcácer-Quibir, não morre aos olhos do poeta, que considera que este rei ressurgiu na memória colectiva: “Quem vem viver a verdade / Que morreu D. Sebastião?” (in “O Quinto Império”).
Existem semelhanças entre os heróis dos dois poetas como a presença da fragilidade e do medo, que caracterizam o ser humano, mas também a força para superar as dificuldades e a sua divinização. N’ Os Lusíadas, a debilidade da condição humana está presente nas reflexões do poeta: “Onde pode acolher-se um fraco humano/ Onde terá segura a curta vida.” (Canto I, est. 106), e a superação dos obstáculos que pode ser encontrada no episódio do Gigante Adamastor: “Dizendo nossos Fados, quando, alçado, / Lhe disse eu: «Quem és tu?...»” (Canto V, est.49). No poema “O Monstrego”, na Mensagem, Pessoa cita as mesmas características: o receio inicial que o homem do leme apresenta na presença do monstro e a superação quando enfrenta o seu medo – “Três vezes do leme as mãos ergueu, / Três vezes ao leme as reprendeu, / E disse ao fim de tremer três vezes:”.
Outra semelhança é o desfecho trágico no qual a glória é marcada por sofrimento e lágrimas, como podemos observar pela análise do episódio “Despedidas de Belém” – “A desesperação e frio medo/ De já nos não tornar a ver tão cedo”— e num dos poemas da Mensagem “Mar Português”: “Ó mar salgado, quanto do teu sal/ São lágrimas de Portugal!”.
A mitificação do Herói aproxima as duas obras, cada uma a seu modo: n’Os Lusíadas os navegadores portugueses interagem com as Deusas no amor e num banquete, sendo elevados por Vénus à condição de Deuses. Assim defende a Deusa do Amor: “Os Deuses faz descer ao vil terreno/ E os humanos subir ao Céu sereno” (Canto IX, est.20). Na obra de Pessoa, o Herói não é inserido em quaisquer coordenadas de tempo e espaço, sendo por isso intemporal: “Eras sobre eras se somem/ No tempo que em eras vem” (in “O Quinto Império”), adquirindo uma configuração mítica resultante da concretização divina que o distingue do resto do povo: “Cadáver adiado que procria?” (in “D. Sebastião Rei de Portugal”).
As obras analisadas foram escritas em séculos muito diferentes – Os Lusíadas no séc. XVI e a Mensagem no séc. XIX – que correspondem, efectivamente, a períodos distintos da nossa História, suscitando, deste modo, diferenças ao nível dos objectivos das obras e das características do seu Herói.
O poeta Luís de Camões viveu no Período Renascentista, que colocava o Homem no centro do mundo (antropocentrismo), dando-lhe a possibilidade de escrever o seu próprio destino. Nesta época, em Portugal, vivia-se um período próspero devido à política expansionista dos Descobrimentos, propício à escrita de uma epopeia a louvar as aventuras dos portugueses. O poeta Fernando Pessoa viveu num período conturbado da História, com a queda da Monarquia, o fracasso da República e a instauração da Ditadura do Estado Novo. O país passava por dificuldades financeiras. Dominava uma falta de esperança na renovação de Portugal. Para tentar minimizar estes obstáculos, o poeta escreveu a Mensagem, com o intuito de louvar Portugal e tentar diminuir o sentimento de negativismo que a sociedade vivia. O seu amor pelo país resulta numa posição espiritual, definida pela procura do que não existe, e pela loucura consciente, que lhe permite a realização de grandes feitos.
Enquanto o Herói d’Os Lusíadas é dinâmico, corre inúmeros perigos e ultrapassa grandes aventuras terrenas – “Em perigos e guerras esforçados/ Mais do que prometia a força humana” (Canto I, est.1) –, o Herói da Mensagem é estático, baseando-se na utopia e no indefinido, onde o abstracto prevalece sobre o concreto – “Louco, sim, louco, porque quis grandeza/ Qual a sorte a não dá” (in “D.Sebastião, Rei de Portugal”).
Na obra de Camões é narrado um acontecimento da História de Portugal, a Descoberta do Caminho Marítimo para a Índia, que é concluído com a chegada da frota de Gama a Calecut. Aqui existem marcas de tempo e espaço: esta viagem ocorreu na realidade e o poeta narra os locais por onde passaram os navegantes e as vivências que experimentaram. Na Mensagem estas marcas não se encontram presentes; a obra adquire um valor intemporal. Os elementos descritivos e narrativos são suprimidos, como podemos observar no poema “Horizonte”. O poeta não descreve uma viagem nem um império terreno, muito menos canta a guerra contra os infiéis. O seu Herói concentra a sua atenção num além, numa utopia e valoriza a sua procura em relação à descoberta de algo concreto – “Quando é o Rei? Quando é a Hora?/ Quando virás a ser o Cristo” (in “Screvo meu livro à beira-mágoa”). Assim, na obra de Pessoa tudo tem um carácter mental e conceptual.
Relativamente ao prémio atribuído ao Herói depois do seu esforço, n’Os Lusíadas essa recompensa foi a Ilha dos Amores e as suas ninfas (Canto IX e X), que, num episódio simbólico, conferiram dignidade aos nautas e os elevaram ao estatuto de Deus através do amor físico. Na obra de Pessoa não existe este tipo de reconhecimento: o Herói acaba por perseguir um ideal que se encontra sempre num referencial longínquo como o horizonte: “Buscar na linha fria do horizonte/ A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte /Os beijos merecidos da Verdade”. Logo nunca alcança o prémio, continuando na sua procura incessante.
           Para finalizar, Fernando Pessoa e Luís de Camões foram dois dos maiores poetas portugueses e partilharam ideais como o patriotismo e o desejo de reabilitação do tempo do presente. Sublinhemos, porém, uma diferença marcante: Pessoa era um intelectual que deu mais importância à procura de uma ideia utópica enquanto Camões era um homem de acção que preferiu cantar os feitos bélicos do seu povo.

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